Os Cheganos, o principezinho, o Roger, a Alice, o Bugs Bunny, nos reinos da bicharada

Escrito por Albino Bárbara

Com recurso a tudo o que possa aparecer na televisão, coloca-se em cena uma série de adereços onde se tenta transmitir uma quantidade de elementos visuais tentado fazer chegar, aos mais incautos, uma quantidade significativa de mensagens em que a emoção ganha forma e se alia e modela o discurso ao de Monsieur De La Palisse, investindo (sem qualquer pudor) nas célebres frases feitas (daquelas que todos gostamos de ouvir), embalados na música celestial, em componentes adornáveis que possam influenciar a decisão de todos os cálculos.
Depois, aparece a mulher de César, o Kant na “Razão Prática”, o Ortega na sua circunstância, o reinozinho do Saint-Exupéry mais a Alice, todos eles embrulhados na tramóia protagonizada pelo coelho Rabbit, em que os “friends” Bugs Bunny, Mickey Mouse e os capangas da malévola ganham necessário destaque. Tudo ao pormenor. Quanto a isso não há dúvida.
Cas Mudde diz que eles são de baixa densidade e John Judes afirma que a explosão dessas “populissses” tem os dias contados. Já Orwell, pelo sim, pelo não, avisa o mundo da presença do “grande líder”, do homem providencial, do homem-chegano, do que tudo isso tem de sério e inquietante, da democracia muito musculada e, se calhar (também pelo sim pelo não) ficar atento ao conselho de Sena “Liberdade, Liberdade, tem cuidado que te matam”.
Olhando para estes burantinos do sistema e para a corja do fungagá falemos destes animais e como eles são, deixando assim um aviso a todos os argonautas do mar Tirreno que, embevecidos pelo mavioso e hipnótico canto das sereias, embalados pela música celestial, se esquecem que essas putas contracenam com o silêncio kafkiano das outras tantas sereias que nesta crónica e neste pequeníssimo fragmento de tempo significa um acto sensacionalista de uma agonia prolongada ou mesmo de uma morte anunciada. Exagero? Talvez sim, talvez não…
O “killer instinct” identifica uma série de argumentos tendo por base o conto de cordel, o pregão da feira, a historieta da banha da cobra e até o refluxo imperfeito cujo “happy end” é sempre o mesmo: o rei vai nu, alimentado pelo tal batalhão de comentadores e especialistas que, a um ritmo militar, ajustam o discurso da direita volver nessa parada do quartel onde os pategos dos Sanchos Panças teimam em substituir princípios e valores defendidos pelos mais que reconhecidos Cavaleiros de La Mancha. Aqui temos de aplicar a teoria do algodão.
Em política não vale tudo e agora, agora mesmo, é tempo de arregaçar as mangas, reinventar a cidadania, se calhar substituir esse conjunto de fatores psicossociais e emocionais que tanto contribuem para a rispidez, a agressividade e a intolerância por um discurso onde se consigam corrigir alguns descontentamentos (e são vários), tendo por base a herança deixada pelos nossos antepassados, numa luta constante pela igualdade, fraternidade e Liberdade. Mas… isso só se consegue defendendo uma sociedade onde a justiça social impere e sejam colocados em prática os princípios defendidos pelo 25 de Abril, numa democracia plena. Tudo o mais é retrocesso civilizacional, perca de direitos, música apimbalhada, fiteiras desnecessárias, cagança ideológica, (des)venturanças e tretas.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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