Este é o meu último artigo como deputada eleita pelo círculo da Guarda, na semana em que uma nova legislatura tem início. Ao longo do último ano tive o privilégio de usar este espaço no jornal O INTERIOR para prestar contas, refletir com os leitores e, sobretudo, partilhar a mensagem de que não há impossíveis que não possamos, coletivamente, ultrapassar.
Termina um ciclo profundamente marcante da minha vida pública. Representar a Guarda na Assembleia da República foi uma missão que abracei com entrega total, compromisso de corpo inteiro e uma ligação verdadeira ao território e às suas gentes. Em cada iniciativa ou intervenção parlamentar (e foram mais de quatro dezenas), procurei ser porta-voz das preocupações e das aspirações de quem cá vive.
Entrei na política ativa ainda não há dez anos, aceitando o desafio quando já tinha um percurso profissional consolidado. Como secretária de Estado do Turismo e, depois, como ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, tive a honra de pertencer ao Governo que mais fez pela coesão territorial. Os três executivos do Partido Socialista, liderados por António Costa, foram os que tiveram a visão mais justa e transformadora para o interior do país.
Tive, pois, o privilégio de fazer parte de uma equipa que concretizou aquele que foi, indiscutivelmente, o maior ciclo de investimento público das últimas décadas no distrito da Guarda.
Foi o tempo em que se decidiu a instalação do Porto Seco da Guarda, uma infraestrutura estratégica nacional, uma estação aduaneira interior pioneira em Portugal, que afirma a região como plataforma logística internacional, com impactos duradouros na economia.
Foi o tempo da reabertura da Linha da Beira Baixa e da requalificação da Linha da Beira Alta. E do Plano Ferroviário Nacional, que nos projeta para o futuro e afirma a centralidade da Guarda nos eixos nacional, ibérico e europeu.
Foi o tempo de colocar a Guarda no centro das decisões, com a instalação do Comando Nacional da Unidade de Emergência, Proteção e Socorro da GNR, e com a criação e sede na Guarda, após negociações que passaram por Bruxelas e Madrid, de um Centro Ibérico para a Economia e Inovação Social.
Foi o tempo de retomar a ampliação e requalificação do Hospital Sousa Martins (a que outros chamaram gasto excessivo), com a construção de uma das mais modernas unidades de Saúde Materno-Infantil da região Centro.
Foi o tempo de concretizar programas determinantes para a fixação de trabalhadores no interior, como o Interior+, o Avançar ou o Regressar.
Foi o tempo de lançar o maior plano de requalificação e alargamento de respostas sociais, com 35 milhões de euros de investimento em 1.500 novos lugares para crianças, mais velhos e pessoas com deficiência.
Foi o tempo de investir na valorização do Instituto Politécnico da Guarda, na ligação ao tecido económico e na qualificação de jovens. E de dar força ao ensino profissional como via de futuro, onde se destaca a Escola Profissional da Guarda, um exemplo nacional de excelência e inclusão.
Foi o tempo da criação e implementação do programa “Creche Feliz”, que instituiu a gratuitidade da educação como direito universal desde o berço, qualquer que seja o berço, numa medida transformadora, de investimento no talento e de combate a ciclos de pobreza.
Foi o tempo da Agenda do Trabalho Digno, aprovada enquanto exerci funções governativas, para relações laborais com maior segurança, conciliação, fiscalização e justiça.
Nada disto se construiu por acaso. Foi o resultado de governação com visão, de trabalho em rede com autarcas, instituições e cidadãos. E de um Partido Socialista que, sempre que governa, escolhe investir no interior.
Os tempos que se aproximam continuarão a exigir resiliência, exigência e coragem. A Guarda terá, desde esta semana, uma nova deputada eleita pelo PS, a Aida Carvalho, cuja competência, conhecimento e autenticidade darão continuidade ao trabalho iniciado. Conhece bem a realidade, respeita as pessoas e sabe que a política só faz sentido se servir para transformar.
E eu estarei sempre ligada ao distrito da Guarda, terra da minha Mãe. Porque há compromissos que, mesmo quando mudamos de missão, continuam a habitar em nós.
É nesse espírito que abraço uma nova missão, como candidata à presidência da Câmara Municipal de Sintra. Uma missão diferente, mas guiada pelos mesmos princípios de serviço público, proximidade, justiça social e compromisso com as pessoas. Com a certeza de que cada lugar onde somos chamados a servir é também um lugar onde podemos fazer a diferença.
E é extraordinário todos os dias virem ter comigo Pessoas que nasceram no distrito da Guarda e que vivem hoje no concelho de Sintra a darem-me força nesta missão.
Todas contam, eu conto com todas e todas sabem que poderão contar comigo. É esta a força que me acompanha na vida e no exercício de funções públicas: as Pessoas, sempre.
* Ex-deputada do PS na Assembleia da República eleita pelo círculo da Guarda