Notas soltas para 2019

Escrito por Carlos Veloso

O que esperar de 2019?
O que podemos esperar (e devemos recear) de 2019? O INTERIOR voltou a desafiar personalidades, autarcas, políticos e jornalistas a partilhar a sua opinião sobre o novo ano, bem como as suas aspirações, preocupações e anseios. Nesta edição publicamos mais um conjunto de contributos.

Não me parece possível fazer mudanças visíveis de um ano para o outro. E não tenho a certeza que a perspetiva de mudança, do desejo de um bom ano que se repete todos os anos, de um “Bom ano 2019” seja proclamado em pleno início do Inverno, com base no calendário juliano!
Com as temperaturas baixas que se fazem sentir por toda a Europa somos obrigados a retrair em todos os sentidos, seja nos desejos, nas ideias ou na esperança que partilhamos. Talvez na Austrália o alcance do desejo e esperança seja outro, já que, nesta altura, andam as altas temperaturas a guiar a imaginação! De facto, o contexto, seja local ou global onde nos movemos, tem um peso específico no modo como a nossa vida se imagina para a frente e sempre a olhar para trás… António Damásio, no seu “Livro da Consciência”, refere que a «nossa capacidade para imaginar eventuais acontecimentos também depende da aprendizagem e da recordação, e é o fundamento do raciocínio e da navegação imaginária do futuro e, de uma forma mais geral, da criação de soluções inovadoras para um problema». Presumo que podemos afirmar que a nossa imaginação será tanto maior quanto maior for a nossa aprendizagem e conhecimento e naturalmente depende do nosso contexto, o de cada um, que determinará a nossa capacidade de mudança (se for esse o propósito).
Haverá para o país um problema maior que resulta da sua “litorização” em detrimento do problema maior que a “interiorização” não consegue deixar de promover. Nestes campos justapostos persegue-se a ideia de que os territórios do interior deveriam ter um maior investimento, um maior reconhecimento da sua importância, etc, etc. Porque a realidade evidencia melhor qualidade de vida nos territórios dependentes do Atlântico. Ora, presumo que não seja possível, do ponto de vista custo/benefício, implantar um aeroporto internacional na Guarda! Mas não é impossível! A solução de aproximar os aviões do interior do país foi o da “aproximação”, a partir das autoestradas para reduzir o tempo que se demora a chegar ao aeroporto Humberto Delgado no sul ou o de Francisco Sá Carneiro a norte. De facto, existe um tipo de preço a pagar, seja no interior ou no litoral, por razões distintas. A dependência que todas as regiões do país detêm com o poder das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto é um facto difícil de ultrapassar por muitas manifestações que se possam agendar em 2019. Poderemos começar a ver um modo distinto de ver o interior sem comparações.
No momento em que a tecnologia dotar cada um de nós da capacidade de voar, seja em versão individual ou familiar. Ou, em alternativa, criar novos veículos automóveis para canais de mobilidade magnéticos que o problema dos territórios desertificados passará à história. Que o ano 2019 seja o princípio de tornar estes sistemas de mobilidade possíveis.
Para o ano 2019 esperemos que o Estudo de Impacto Ambiental para escolha da implantação do novo aeroporto no Montijo seja elaborado e fundamente a escolha do local para implantação da complexa estrutura! A comunicação social tem prestado informação das quantidades e capacidades funcionais que o novo aeroporto irá conter, mas sem dar relevância ao modo como todo o processo de conceção ocorreu, desde logo a escolha do local. Pelo que se percebe das imagens virtuais e de toda a informação disponibilizada, o novo aeroporto não formaliza a nossa herança coletiva do tempo dos grandes conquistadores e navegadores que fomos e de representar contemporaneamente esse legado no mundo. Uma infraestrutura como esta é uma oportunidade territorial estratégica para todo o país, que vai para além de usar a base da “Força Aérea Portuguesa ativa” como um dos motivos da escolha. Razão muito pequenina…
Por último, para 2019 gostaria de ver, por exemplo, a criação de uma espécie de fórum, um espaço de discussão e reflexão (semestral ou anual), envolvendo os mais diversos meios (académicos, empresariais, associações económicas, políticos, representantes dos mais variados sectores da sociedade locais ou nacionais) que pudessem discutir o desenvolvimento do espaço físico, social, cultural e económico dos territórios do interior.

* Arquiteto

Sobre o autor

Carlos Veloso

Leave a Reply