Ontem foi o dia das mentiras. Ontem mentiu-se e, hoje, ao que parece, desmente-se. A pergunta torna-se inevitável: Será que na maior parte das vezes os homens no seu dia-a-dia dizem a verdade? Nietzsche afirmava que «é bem mais cómodo dizer a verdade, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória», enquanto o poeta algarvio António Aleixo apregoava «pra mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade».
Os estudiosos da matéria defendem que o mentiroso inicia a mentira com uma percentagem de verdade, dá-lhe uma boa dose de mentira e termina com outra tanta dose de verdade.
A mentira é uma coisa interessante e a sua invenção perde-se no tempo. Eubulides tem a seguinte versão: «Um homem está a mentir. O que ele diz é verdade ou mentira?» e a Epimênides é atribuída a versão que todos os Minoicos são mentirosos, para, no século XIX, Carlo Collodi apresentar Gepeto, grande criador do boneco Pinóquio. Em princípios do século XX Aleister Crowley, no seu livro das mentiras, não consegue apresentar um único pensamento nem sustentar qualquer teoria.
Depois surgem os grandes aldrabões que, na “Sombra de Estaline”, recriam o “Auto da Compadecida” ou o “Mago da Mentira” escondendo-se no albergue do caranguejo laranja, onde encontramos o rosadinho cão medoro, o polichinelo azul e a fada vermelhusca que faz questão de nos apresentar os banqueiros sicilianos, em que a luta de classe está presente mais umas quantas seitas e religiões, empresas, chegando-se com alguma dificuldade à atividade mais baixa e mais ordinária, assim tão bem descrita por Stefan Zweig: o admirável mundo da política.
Dizer uma coisa de manhã, à tarde outra e à noite o seu contrário, prometendo tudo aquilo que sabem que não podem cumprir (meu Deus, onde é que eu já ouvi isto!!!). De promessas está o inferno cheio e é fácil perceber porquê:
o Putin mente ao Trump, o António mente à Ursula, o Vítor ao Emannuel e o Netanyahu mente a todos. E se por lá é assim, por cá o Luis mente ao Pedro, o Quinzinho de Portugal mente ao Paulo, o Rocha mente à Inês, o Muacho mente ao Rui e o aldrabão mor dos reinos da Dinamarca mente a todos os (des)venturados. Já Marcelito, inconformado, percebe que são uma corja de embusteiros/ gente pequena e nem é preciso técnicas e aparelhos policiais para detetarmos a mitomania existente, concluindo-se que já não há drunfos ou mezinhas que os curem.
Neste triste espetáculo sustentado por um batalhão de “especialistas” e comentadores que diariamente nos entram pela casa adentro, nem Goebbels conseguiria demonstrar que a mentira repetida mil vezes jamais se tornará verdade.
Vem aí a campanha eleitoral e o discurso do gajo-porreirismo sustentado pelo chico-espertismo orientado para o mais pequeno com promessas do país da Alice com mundos e fundos, quando sabemos que o Urso de Ouro é pura e simplesmente a manutenção do status bem evidenciado pelo sorriso cínico e sobranceiro de todos aqueles que ao longo dos anos bem conhecemos e bem identificamos: os de sempre. Os grandes filhos da puta.
Ontem foi o dia das mentiras. Hoje e os dias seguintes continuam a ser os dias em que a mentira é permanente e bem imaginada nos cálculos de todas as partidas, o ping-pong do percurso e a sorte de algumas chegadas.
Felizmente estamos em Abril. Como consolação, quer se goste quer não, fica-nos a esperança (nem que seja a última a morrer), de podermos substituir a espuma dos dias por essa fonte inspiradora que é a poesia. Abril é isso mesmo e de uma coisa tenho absoluta certeza: não serão os intrujões/ mentirosos do sistema que no la irão roubar.