Apagamentos

Não é novidade para ninguém que Portugal sofreu um forte apagão na passada segunda-feira, mas se o leitor quer notícias frescas, assine o “New York Times”. O que não encontra em mais lado nenhum, excepto em milhares de contas na malucosfera, são teorias conspiracionistas muito saudáveis como as que trago aqui à página do jornal.
Tenham sido “hackers” russos ou uma atmosfera dos diabos, a falta de energia eléctrica durante um dia foi uma bênção para todos os partidos políticos e explico porquê. Começando pelo fim, foi com imenso alívio que Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro se viram livres de um debate em que nenhum tinha muita vontade de participar. “Ui, não, isto sem luz é melhor não, ainda tropeçamos num NIB escondido ou num NIF traiçoeiro”.
O PAN usou a falta de electricidade para demonstrar como a vida é bela sem trabalhar nem ir à escola, o Bloco de Esquerda culpou todos os ricos porque os jovens ficaram um dia interior sem poder carregar o iMac, e o PCP apontou que a luz, quando falta, tal como o sol quando brilha, deve ser para todos. O líder do CDS ainda perguntou se podia ir ele ao debate, mesmo às escuras. A IL referiu que não se pode confiar em empresas detidas pelo Estado, ainda mais quando esse Estado é comunista. O Chega atribuiu a responsabilidade do apagão aos paquistaneses do Martim Moniz por ligarem muitos telemóveis à mesma tomada.
O leitor, cada vez mais atrevido, pergunta: “Mas isso é verdade? Os partidos disseram mesmo isso?” Então, e eu é que sei? Mas eu, por acaso, ando a ler o que os partidos disseram, especialmente num dia de sol em que não houve electricidade nem telecomunicações até depois de jantar? Se não lhe apetece assinar o “Guardian” ou o “Telegraph”, aproveite enquanto não houver mais apagões e informe-se em vídeos de chanfrados no YouTube e contas esquizóides do X (ou ex-Twitter, por isso, TwiX). Mais mal informado do que nesta crónica não fica.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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