Amaro e a escola da vergonha

Escrito por Acácio Pereira

O poder autárquico da região vive mergulhado numa névoa densa e pouco sadia, que não vem da serra nem do vale, mas sim dos corredores das câmaras municipais e da presidência da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE). O epicentro está entre a Guarda e Gouveia, com ramificações diretas na CIM, hoje liderada por Luís Tadeu. A teia é antiga, com nomes repetidos e práticas bafientas.
Álvaro Amaro, outrora eurodeputado e barão do PSD local, foi este mês condenado em segunda instância a três anos e seis meses de prisão com pena suspensa. Uma condenação que não espanta quem se lembra da acusação de 2019, ou da caução de 40 mil euros paga para aguardar julgamento em liberdade noutro processo. Não se trata de um caso isolado – é a consagração judicial de um modo de fazer política que enraizou vícios e cultivou discípulos. O mais preocupante é que esta “escola” continua de portas abertas.
Luís Tadeu, seu herdeiro político, permanece em silêncio. Não comentou a sua condenação e a do seu mentor, não se afastou, não assumiu qualquer responsabilidade política. Se tivesse um pingo de ética, já se teria demitido, mas parece que, nas serranias da política, a decência virou bem escasso. E se a CIM não se manifestar institucionalmente sobre esta vergonha, os demais presidentes de Câmara tornam-se coniventes com a degradação ética do espaço que representam.
Na Guarda, Sérgio Costa, outro discípulo de Álvaro Amaro, continua a representar o papel de ingénuo institucional, embora com cada vez menos talento. Quando veio a público a condenação por assédio moral de uma das suas assessoras, limitou-se a dizer-se «apanhado de surpresa» e a prometer ação futura «quando chegar a notificação do tribunal».
Ora, a condenação já é pública e noticiada. O atraso não é legal, é político – e também moral. No decorrer do processo os juízes consideraram o seu testemunho parcial e protetor da funcionária condenada. O que se passou foi grave, durou anos, e não teve a resposta institucional que exigia. Sérgio Costa foi, no mínimo, conivente – e, no máximo, cúmplice pela omissão.
E o que dizer do outro caso – ainda sem desfecho conhecido – em que uma funcionária da autarquia denunciou toques no corredor, «uns toques no rabo», segundo relatou. Sérgio Costa apressou-se a anunciar um inquérito, mas já passaram dois anos e nunca se conheceu o resultado.
O que une estes episódios não é só a geografia, é a matriz. É a escola de Álvaro Amaro, que devia ter sido erradicada. Mas, em vez disso, floresceu. E continua a dar maus frutos.

* Presidente do Conselho Distrital da SEDES Guarda

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Acácio Pereira

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