A economia social não pede favores. Pede o reconhecimento de quem decide como se constrói o futuro

Escrito por Ricardo Antunes

Vivemos tempos de grandes desafios sociais, económicos e territoriais. Fala-se muito de inovação, de investimento, de desenvolvimento e de competitividade. Mas há uma parte fundamental da economia que continua sistematicamente afastada do centro das decisões. A economia social. Uma realidade que transforma comunidades, gera impacto local e cria respostas onde o Estado não chega e onde o mercado, por vezes, não vê solução.
O mais preocupante é que o desconhecimento sobre este sector não se limita ao cidadão comum. Muitos dos que ocupam cargos de decisão continuam sem saber, de facto, o que é, para que serve e qual o impacto que tem. Ou, sabendo, optam por ignorar.
A economia social não é uma nota de rodapé. É feita por instituições que conhecem o terreno, que trabalham com proximidade, com compromisso e com continuidade. Instituições que lidam todos os dias com pessoas reais, com necessidades concretas, com histórias que não cabem em estatísticas.
Ainda assim, continuamos a ter de explicar, vezes sem conta, que isto não é voluntariado, nem assistencialismo, nem caridadezinha. É um sector com responsabilidade, com estrutura e com impacto económico real. Criamos emprego, desenvolvemos respostas, movimentamos recursos e geramos valor social. Fazemos parte ativa da economia. E, apesar disso, continuamos frequentemente fora das conversas estratégicas, dos planos municipais, dos apoios fundamentais. Porque quem decide não quer saber. Ou prefere apostar noutros atores, com outros interesses.
Não é por acaso que vemos, cada vez mais, prioridades políticas a favorecer iniciativas privadas, muitas vezes distantes das reais necessidades dos territórios, enquanto instituições que provam diariamente o seu valor ficam à margem. O critério deixa de ser o impacto e passa a ser o retorno político, económico ou mediático.
Isto não é apenas um problema de comunicação. É uma falha de visão. E custa caro. Quando se desvaloriza a economia social, desvaloriza-se aquilo que temos de mais humano e transformador. A capacidade de cuidar. De incluir. De construir uma sociedade mais justa, mais equilibrada e mais solidária.
É urgente aumentar a literacia em economia social. Nas escolas. Na comunicação social. E, acima de tudo, entre quem tem nas mãos o poder de definir políticas, distribuir recursos e traçar estratégias. Porque não podemos continuar a ser invisíveis para quem toma decisões que afetam a vida de todos.
Quem trabalha neste sector não pede favores. Pede reconhecimento. Pede que olhem para a economia social como ela é. Uma força de coesão, de dignidade e de futuro.

* Diretor-geral da CERCIG

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Ricardo Antunes

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