Palácio da Verga

Escrito por Pedro Narciso

Envergando a camisola amarela do combate às gorduras do Estado, o “influencer” da boa forma parlamentar, André Ventura, propõe o debate sobre o emagrecimento do número de deputados para o mínimo de necessidades metabólicas da Constituição. Mas se os 230 deputados eleitos são um número excessivo, alguém o deverá avisar que não chega um Costa Concórdia para transportar os 70 X muitos assessores, especialistas e motoristas, escolhidos da mesma forma que decorrem os trabalhos da comissão de transparência: à porta fechada!

Vergastado pela crise demográfica, o distrito perdeu mais poder e representatividade do que o João Baião na TV. Numa altura em que se discute o tempo de intervenção que cada partido terá para expor os seus ideais, seria muito interessante perceber quanto tempo dispensarão os deputados eleitos pela Guarda para exposição dos problemas do território que os escolheu. Com toda a certeza, a reforma do sistema eleitoral terá de o tornar mais simples que pagar quotas no PSD, mais escrutinado que um jantar de “Casados à Primeira Vista” e com menos falhas que a escala de Urgência pediátrica do Garcia de Horta.

De envergadura será a apresentação do Palácio dessa nova Nobreza portuguesa na cidade. Não se revestirá da pompa do anúncio do Secretário de Estado do Desporto da construção de um Palácio do Gelo nessa cidade de montanha que é Lisboa, mas também nos quer fazer comer o gelado com a testa. Aqui, nem o Solar dos Vinhos, nem o Solar dos Sabores, conseguiram acrescentar nada ao palato dos consumidores do centro histórico, mas o Palácio da Verga promete ser diferente. Uma concessão com bateria para atingir o El Dorado que se abre num campo ainda minado e se explora com muito jogo de cintura. O Preço Certo pago para distribuição de tachos ainda não estará definido, mas já temos um cesto de verga na montra final.
Vergalhudos! Dir-me-ão. Contorcionistas, penso eu. Não me sai da cabeça a imagem clássica de um sem número de artistas que se encontram no passeio e que, quando chega um pequeno Mini, se acotovelam como podem para garantir o seu lugar, ignorando todas as regras de necessidade de combustível, de capacidade da suspensão ou segurança do mesmo. Desde que circule e os leve dentro. O corolário da teoria de evolução das espécies, ou uma reles arca de Noé com péssimos porteiros?

Vergastador é sempre o anuário dos municípios portugueses. Uma espécie de livro de S. Cipriano que no município da Guarda foi lido ao contrário. É que tentar convencer os munícipes da boa prestação das contas municipais, num quadro em que o aumento da aquisição de bens e serviços é superior a 50%, o IMI se mantém em níveis elevados e ainda não foi reconhecido qualquer valor da dívida às Águas de Portugal, é apenas um bonito sonho de um filme de terror. A menos que alguém, no final de uma campanha eleitoral, se recorde que, afinal, há 30 milhões de euros num cofre, herança de concessões de urânio e volfrâmio, o pesadelo será mais real que Alcochete.
O aumento da Vergonha alheia mínima municipal nem necessitou de concertação social, ou anúncio da Ministra do Trabalho, para subir em flecha. Desde patins que só riscam os pavilhões municipais, a capitais europeias de relvados perfeitos com maior densidade de minhocas e reitores que não conhecem a Guarda, a escolha é variada. A que me faz corar mais é mesmo a das bactérias que não se desenvolvem em altitude. É certo que em altitude também rareia o oxigénio, mas não servirá de desculpa para uma desgarrada de gafes só batida em número pelas obras anunciadas! Mas se até Veneza, a meter água por todo o lado, singra no turismo, podemos muito bem anunciar que curamos amigdalites aos 800 metros de altitude, pneumonias aos 1.000 metros do Parque da Saúde e sífilis com bloqueio da fronteira para Fuentes. Nem antibióticos, nem fito fármacos, aqui as bactérias morrem pela força do vergalho!

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Pedro Narciso

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