Os estados de alma

Escrito por Diogo Cabrita

Os seres humanos têm componentes de racionalidade e de emotividade, sendo que em cada uma das vertentes há várias possibilidades. Há a racionalidade lógica, a emotividade social, a paixão, a racionalidade adaptativa, a intransigência emocional, a compulsão fanática, a boçalidade irracional e depois há o vetor cultura com a capacidade de construção de ideias.  Um inculto boçal é difícil de concretizar um dialógico. Um emotivo apaixonado tem dificuldade em ouvir. Um fanático racional é um beligerante e, portanto, não escuta. Um boçal irracional que fosse do Benfica a 17 de Maio estava impossível. Se o mesmo fosse do PS, no dia 18 de Maio baixava os graus de confiança.  A conversa de dois fanáticos não é concretizável. O diálogo de dois emotivos sociais é mais fácil. Assim no fim-de-semana passado surgiu a rede social impregnada de insultos e de boçalidades.
Reparem: o Chega tem 22 por cento de portugueses. Apenas um por cento de portugueses é rico. O número de jovens formados é enorme e essa é a maior parte da malta que vota à direita – homens, jovens, formados. Portugal tem a geração mais instruída de sempre. Então no Chega não votaram estúpidos e broncos. No Chega não votam os ricos (não chegava). No Chega não votam incultos, nem os mesmos de sempre, pois não existia há dez anos. Qualquer leitura social leviana é incompetente na análise eleitoral. Mas a incompetência dos medidores de informação definiu um padrão maligno a Donald Trump e vaticinaram a sua derrota. Falharam. A vitória foi estrondosa. Os mesmos viram um debate com a vitória de Mortágua usando legos. Os de sempre, vaticinaram a queda do Chega. Falharam. Erraram em todas as avaliações. Ventura perdeu todos os debates, segundo eles todos! Construíram cenários fanatizados e de malignidade que acantona a racionalidade comprada, a vertente menos honesta do comentário político. Espera-se de gente paga para informar, algum conhecimento, alguma sustentação, alguma discursividade lógica. Perceber o que está a transportar a percepção dos eleitores, inclui meter na cabeça que o vinte e cinco de Abril de 1974 é um momento da história longínqua para todos os que hoje têm menos de 62 anos. Inclui perceber que o conceito de “extrema direita” é uma boçalidade afirmada pelos defensores da Venezuela ou da miséria cubana.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Deixe comentário