Vai pensamento em asas de ouro, saudando as margens do Jordão e as torres demolidas de Jerusalém nesse conto agora revirado de pernas para o ar onde a história já se repete vezes sem conta, com o carteiro a tocar duas vezes, a morrer outras tantas e a Mafalda a dizer-nos, dia após dia “Assim vai o mundo”.
Este mundo perdido no meio de tanta ambição, arrogância, orgulho e preconceito, egoísmo, cinismo, mentira, repleto de lobos que pelo crepúsculo da noite saíram de Wall Street, passaram por Savin Hill e os de Calla fizeram parcerias com alcateias de Fordow, Haifa, Rafa, Kursk, Telavive, Moscovo, Donetsk, Maniamba, todos de mãos dadas a caminho de Damasco, rumo ao eixo do mal, muito bem orientados pela tal conspiração da aranha tentando transmitir-nos a ideia de que somos todos iguais, mas… há duvidas quanto à fisionomia de alguns destes porcos.
É que nós, os espectadores orwellianos, olhamos para um porco e para um homem e depois olhamos para um homem e para um porco e é quase impossível distinguir quem é o homem e quem é o porco.
As árvores já não morrem de pé. Tombam e, na sua queda, o estrondo que fazem determina rendição, abandono, fome, morte, deixando de lado o pensamento de Lennon que, felizmente, até aqui nos guiava, sendo substituído pela poesia de Eugénio «os hospitais cobrem-se de cinza e cada homem tem apenas para dar um horizonte de cidades bombardeadas».
Os tempos são angustiantes, os sorrisos dão lugar a lágrimas, as religiões, todas elas, tornaram-se folclóricas e os loucos de Lisboa filmam o esqueleto no gueto que entra como artista principal. O mundo, o nosso mundo, está virado ao avesso e, de frase feita em frase feita, de chavão em chavão, a melodia entra pelos nossos ouvidos e nem a mentira implícita, a falta de fundamento conseguem demover alguns malandros e uns tantos incautos onde está subentendido o apelo ao racismo, ao ódio, à xenofobia num ressurgimento de movimentos que tentam promover a discriminação e a falta de respeito pelo outro e, ao olharmos, conseguimos ver tantos e tantos jovens que procuram respostas ao ambiente familiar, social, integração no mundo do trabalho e nalguns casos em questões cívicas e, as perguntas colocam-se: O que falhou? Quem falhou? De quem é a culpa? Será este o caminho?
Sem metermos a cabeça na areia, até porque não podemos ter esta atitude cobardolas, o momento é de reflexão. Zweig aconselha: «O artista na sua queda toma contacto directo com a sua obra. O comandante na derrota compreende os seus erros assim como o homem de Estado na desgraça adquire a verdadeira clarividência política. A desgraça exige uma visão mais larga e mais profunda das realidades do mundo. A reflexão é uma dura escola, mas é uma escola onde se aprende bem».
Anne Frank diz-nos que estes tempos são difíceis. «Ideais, sonhos e esperanças permanecem dentro de nós, sendo esmagados pela dura realidade. No entanto, eu me apego a eles, porque ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são boas de coração».
O momento que vivemos não é mau. É péssimo. Pensamos inclusive num evento futuro mais ou menos próximo: a 3ª Grande Guerra Mundial e é aqui que entra a reflexão, a razão e o coração e se é verdade que os deuses estão a ficar loucos, aquilo que mais precisamos, com toda a urgência, é: ponderação, serenidade e muito juízo.