Opinião de Joaquim Brigas: IPG sob o fogo de políticos sem formação e de pseudo-especialistas em ensino superior

Escrito por Joaquim Brigas

O período das autárquicas já lá vai e, por isso, chegou a altura de falar das críticas dirigidas à quebra pontual de novos alunos no Instituto Politécnico da Guarda – IPG, depois de seis anos de crescimento, sem o risco de a discussão ser contaminada pela luta político-partidária.
Este ano, o regresso dos exames que estavam suspensos desde a pandemia da Covid-19 diminuiu em seis mil os candidatos ao ensino superior. Resistiram melhor a esta quebra global as universidades e os politécnicos de Lisboa e Porto e, em geral, do litoral. Foram as instituições do interior, o IPG e várias outras, as mais penalizadas.
Independentemente dos seus méritos próprios, independentemente do alargamento da oferta formativa nos últimos anos e do aumento evidente da qualidade do seu ensino – independentemente também de, em 2025, quatro dos seis centros de investigação em que participa terem sido classificados com “Muito Bom” – o Politécnico da Guarda, tal como outras instituições sedeadas em regiões de baixa densidade, não conseguiu impedir que os alunos portugueses escolhessem a magia “centralista” das Avenidas Novas em Lisboa e da Baixa do Porto.
Este sintoma da macrocefalia de Portugal é um problema estrutural do país há séculos, o qual só pode ser resolvido por políticas de discriminação positiva do interior, contrárias àquelas que têm sido tomadas por este Governo e pelos anteriores. No entanto, a quebra pontual de candidatos tornou-se imediatamente numa torrente de críticas ao IPG sem o menor sentido.
Uns disseram que o IPG se devia dissolver na Universidade da Beira Interior. Outros defenderam ligações à Universidade de Salamanca e outras. Todos ignoraram que o Politécnico da Guarda já integra, desde 2023, uma universidade europeia, a UNITA – Universitas Montium, uma aliança que une instituições de ensino superior de Espanha, França, Itália, Roménia, Suíça, Ucrânia e Portugal, que têm em comum a localização em zonas transfronteiriças e de montanha.
O IPG participa em vários programas europeus e lidera alguns deles, seja no âmbito da UNITA, seja noutras redes de universidades europeias, como o ADT4Blue, dedicado à Economia Azul, que desafia a capacidade de inovação de estudantes, investigadores e empreendedores de Espanha, França, Irlanda e Portugal. Cinco docentes e investigadores do IPG foram reconhecidos entre os 2% de cientistas mais citados do mundo, segundo a lista “World’s Top 2% Scientists 2025”, elaborada pela Universidade de Stanford (EUA). Estes projetos e atividades fazem com que os estudantes, professores e investigadores do Politécnico da Guarda sejam dos que mais oportunidades têm em Portugal para internacionalizar a sua carreira académica.
Mais do que a injustiça ao trabalho que os docentes, investigadores e técnicos do Politécnico da Guarda têm realizado recentemente, o que impressiona é a profunda ignorância de tantos que se pronunciam em público sobre o IPG, ou que escrevem, ou se exibem nas redes sociais, a falar sobre ele. Exortam o IPG a fazer coisas que já estão feitas há anos… e com mais e melhores parceiros do que aqueles que são sugeridos. Já sobre as razões reais e estruturais da baixa de estudantes no interior do país, nada sabem, ou nada de válido conseguem dizer.
O problema, ainda por cima, é bem real: em 2025 concorreram ao ensino superior os nascidos em Portugal em 2007 – cerca de 105 mil jovens –, mas em 2030/31 irão concorrer os nascidos em 2013, ano que só teve 85 mil crianças. Se até à data não existirem políticas ativas do Estado para trazer jovens para o ensino superior no interior, a invencível inércia de menos 20 mil jovens a concorrer levará a que, daqui a cinco anos, perante tantas vagas para poucos estudantes, a maior parte dos candidatos continue a escolher Lisboa ou Porto para estudar.
Contra a demografia e contra as más políticas de sucessivos governos, de pouco vale o Politécnico da Guarda ter feito desde 2019 a maior valorização formativa, científica e de articulação com o tecido socioeconómico regional e nacional da sua história.
Em síntese, políticos sem formação e pseudo-especialistas em ensino superior deviam estudar bem os assuntos, tentarem informar-se, refletirem, para quando quiserem criticar o IPG o possam fazer de uma forma útil e credível. Já agora, se fazem parte de partidos nacionais ou se têm espaço nos média, bem podiam pôr esse estatuto ao serviço de um combate político por melhores condições para as instituições de ensino superior das regiões de baixa densidade.
A Guarda agradeceria esse serviço.

* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda

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Joaquim Brigas

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