Ser sócio do Sporting Clube da Covilhã é, antes de tudo, um ato de fidelidade. É continuar a acreditar quando já poucos olham, é sentir o coração bater por uma camisola que, embora cansada, nunca perdeu o brilho da sua história. Mas ser sócio, hoje, é também um exercício de paciência e dor. Porque acompanhar à distância esta fase do clube é assistir, em silêncio, a um declínio que custa engolir.
Falo com mágoa, não com amargura. Sei que as dificuldades são muitas, que os recursos escasseiam e que o trabalho é feito, na maioria das vezes, por paixão. Mas também sei que isso, por si só, não chega. Porque se há algo que um dos últimos jogos da temporada mostraram – e não, não falo do resultado (que foi mau) – foi o retrato de um clube que está a perder o fio à dignidade. Jogar sem linhas laterais marcadas no campo, com o diretor desportivo a segurar o balde e o rolo, é mais do que improviso. É um sintoma. Compreendo que são situações que acontecem, agradeço o esforço de todos, mas não podemos ver isto com normalidade.
A dor não vem apenas da vergonha alheia. Vem do contraste. Do estádio que, numa noite fria de semana, encheu com mais de 700 pessoas – quase lotação completa segundo o Flashscore. Vem da atitude dos jogadores, do Diogo Ramalho que lidera, do Konaté que decide, e dos miúdos que ainda sonham com o verde e branco da nossa estrela. Vem da claque “Alma Serrana” (com o apoio dos alunos da UBI), que não falha, esteja chuva ou geada. Vem da equipa de marketing que, nos últimos tempos, aproximou o clube da cidade como há muito não se via.
O Covilhã tem a força da sua história. E aqui confesso: ainda não li o livro de Miguel Saraiva, “História do Sporting Clube da Covilhã 1990-2023”, com muita pena, pois não consegui ainda adquirir. Mas conheço os princípios. Fundado a 2 de junho de 1923, nascido da transformação do antigo Estrela Foot-ball Club, numa reunião entre António Rebelo de Matos e representantes do Sporting CP, o SCC tornou-se a oitava filial leonina. Os primeiros jogos foram contra o seu grande rival, os Montes Hermínios Sport Club, e a primeira taça chegou logo nesse mesmo ano.
Os fundadores – António Rebelo de Matos, António Estrela dos Santos, João de Oliveira, Joaquim Meruje e José Augusto de Carvalho – acreditavam na força de um clube da serra, capaz de unir uma cidade inteira. É conforme esse ideal que hoje devemos lutar: elevar o antigo Estrela Foot-ball Club a onde merece.
Este clube, que viu passar nomes como André Simonyi, o húngaro elegante, ou o memorável Picho’ Suárez, que em campo era génio e figura, não pode resignar-se ao papel de figurante. O Sporting da Covilhã fez parte da história do futebol nacional — e merece voltar a sê-lo.
O SCC precisa de investimento, de visão e, sobretudo, de gestão. Seja SAD, seja outro modelo, o clube não pode continuar a viver entre o improviso e a sobrevivência. Falta ambição. Falta um projeto. Falta aproveitar a prata da casa – os Zé Simão, Gui Paula, Diogo Cornélio e Peixoto, e os que aí vêm: Vasco Cunha, Tomás Galhano, Afonso Andrade, Pedro Brito.
E não falta apoio. O povo da Covilhã está lá. Mesmo quando tudo parece indicar que devia desistir.
E mais do que tudo, não pode faltar amor ao clube. Um amor como o demonstrado por José Mendes, antigo presidente, que com o seu empenho, paixão e dedicação pessoal elevou o nome do Sporting Clube da Covilhã em tempos de glória e também nos tempos difíceis. Manter esse espírito é vital. Porque mais do que dirigentes ou jogadores, são os que ficam, os que resistem e os que sentem, que fazem um clube.
O Sporting Clube da Covilhã não é apenas um clube. É um símbolo. E símbolos não se deixam cair. Um traço vivo da identidade de uma cidade que, mesmo em silêncio, ainda bate pelo seu leão. E esse leão, meus amigos, não pode hibernar. Tem de rugir. Tem de voltar.
Docs de apoio:
Sporting Clube da Covilhā – Estatutos (27 de setembro de 2001)
Websites: https://www.sportingdacovilha.com/
https://www.zerozero.pt/jogador/andre-simonyi/147584
https://www.zerozero.pt/jogador/picho-suarez/200204
https://www.flashscore.pt/jogo/futebol/vBwqrdj4/#/sumario-do-jogo/sumario-do-jogo
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