O Côa: símbolo de resistência e de futuro

Escrito por Ana Mendes Godinho

Ao longo dos anos, o Museu do Côa tornou-se mais do que um espaço cultural no centro de um Património da Humanidade (reconhecido pela UNESCO em 1998) que nos orgulha: é um símbolo da capacidade de resistência, de valorização do património e de afirmação do interior do país.
Foi criado em resultado de um movimento popular que começou no extraordinário exemplo de cidadania dos jovens de Vila Nova de Foz Côa e rapidamente se alargou ao país e ao mundo, conduzindo à decisão de travar a construção de uma barragem que ameaçava destruir gravuras rupestres com mais de 20 mil anos.
Como tem acontecido com muitos investimentos públicos no distrito da Guarda, a edificação de um museu que fosse a âncora do Parque Arqueológico do Vale do Côa foi cancelada pelo primeiro governo da AD deste século. O projeto só seria retomado com o regresso do Partido Socialista ao poder, a partir de 2005.
O edifício – notável em todas as perspetivas – pôde então ser construído e foi inaugurado em julho de 2010. Poucos meses depois, foi criada a Fundação Côa Parque para gerir o Parque Arqueológico do Vale do Côa e o Museu do Côa, garantindo que este santuário do Paleolítico continue a existir e a ser visto pelas atuais e futuras gerações.
Seguiram-se, no entanto, momentos difíceis. O Museu esteve em risco de encerrar nos anos em que nos diziam que vivíamos acima das nossas possibilidades. A falta de recursos, o isolamento imposto e a dificuldade em captar investimento deixaram-no à beira do colapso.
Felizmente, a história teve uma reviravolta. De novo com governos do PS, a partir de 2015, o projeto renasceu. O programa “Valorizar”, que me orgulho de ter lançado enquanto secretária de Estado do Turismo, apoiou centenas de projetos que trouxeram valor, visibilidade e emprego ao interior. Entre eles, os Passadiços do Côa, para ligam o Museu ao cais fluvial, e a modernização tecnológica do Parque Arqueológico, incluindo um sistema de reservas online.
Mais uma prova que o turismo pode ser uma alavanca de desenvolvimento, quando existe visão e capacidade de execução. Basta acreditar, ter foco e contar com pessoas motivadas.
Não posso deixar de recordar o contributo decisivo, nesta missão, do saudoso Bruno Navarro.
A partir de 2021, com a liderança da Aida Carvalho na Fundação Côa Parque, iniciou-se um novo ciclo: de crescimento, de projeção nacional e internacional. A Aida, que trabalhou no Parque Arqueológico desde a sua génese em 1996, regressou com uma visão estratégica, conhecimento profundo do território e, sobretudo, uma capacidade extraordinária de mobilizar equipas e recursos.
Sob a sua presidência, o Museu do Côa revitalizou-se: duplicou a receita, lançou novos produtos turísticos, reforçou parcerias com operadores nacionais e internacionais e bateu recordes de visitantes: cerca de 125 mil em 2024, 80% dos quais estrangeiros. Isto demonstra o peso que o Côa tem hoje no panorama cultural e turístico do país.
A vertente científica e pedagógica também tem sido fortemente desenvolvida: só em 2023 foram identificadas 87 novas rochas gravadas, sendo agora 1.468 no total. A Fundação tornou-se um importante polo de investigação, com 31 bolseiros da FCT a desenvolver doutoramento no local.
O reforço e capacitação dos recursos humanos passou pelo alargamento do quadro até 45 pessoas (atualmente são 25). Em 2023, foram desencadeados os concursos para contratar 15 trabalhadores. O processo estava pronto para avançar em abril de 2024, mas foi travado com a entrada em funções de um novo Governo da AD.
Enquanto deputada eleita pelo círculo da Guarda, apresentei já este ano um projeto de resolução para que este processo seja retomado e concluído com urgência.
Não podemos permitir que um exemplo de boa gestão e de valorização do território seja comprometido por inércia de quem, em relação ao interior, só sabe suspender, cancelar, fechar e taxar.
Aida Carvalho não é apenas uma gestora competente. É uma mulher do interior, com conhecimento profundo das suas realidades e com provas dadas na transformação positiva de um território tantas vezes esquecido.
Com um percurso académico notável (doutorada em Ciência da Cultura, investigadora e professora), a Aida é, acima de tudo, uma líder que sabe fazer acontecer, que trabalha com os pés na terra e com o olhar no futuro.
É por isso que me orgulho profundamente de a ver como cabeça de lista do Partido Socialista pelo círculo eleitoral da Guarda nas eleições legislativas de 18 de maio.
A Aida saberá representar o distrito onde vive e sempre trabalhou com autenticidade, competência e determinação. É uma prova viva de que o interior pode e deve ter voz, investimento, futuro.
Apoio-a convictamente, porque já demonstrou que sabe cuidar do que é nosso e também provou que é sempre possível desconstruir a fatalidade.
A Aida e a excelente equipa que a acompanha serão vozes firmes no Parlamento para continuar um trabalho transformador e empenhado, com foco nas preocupações e nas aspirações das Pessoas do distrito da Guarda.

* Deputada do PS na Assembleia da República eleita pelo círculo da Guarda

Sobre o autor

Ana Mendes Godinho

Leave a Reply