Imperfeitos são os dedos que te deixaram fugir

Escrito por Diogo Cabrita

Quis escrever um poema de amor e vinha-me uma raiva do ventre. Doía-me a barriga e apertava o peito. Consumido de horas sem repouso, desgastado de toleimas nunca ditas escrevia no tempo os incómodos de não te ver. Não estavas porque te fiz fugir. Foi do ciúme, do fermentar do mosto, do azedo da ignorância, da ilusão da posse, da demência da dor, da infinita estupidez. Muitas vezes era só deselegância. Perdoa-me, não era eu em fevereiro de 2014. Imperfeitos os dedos que te magoaram, incontidas as palavras que te cuspi, irreparáveis os desatinos. Malditos dedos que te fizeram ir. Palavras brutas, brindei-te nos dias mais doces. Não percebo o que foi. Era medo de fugires? Mas estavas lá como um pilar. Era ciúme? Só se fosse de mim. Imperfeitos os dias sem ti. Arrependido, mas conformado. Era inaceitável para ti. Um ogre e uma princesa. Queria escrever-te apaixonado, mas fiz-te analfabeta para mim. Foste! Fiquei incompleto. Escrevi esta carta na cama onde morro amanhã. Serei cremado com os livros e os discos que ouvi depois de ficar só. Levo fotos tuas também. Quero misturar-me em cultura na hora do fogo farto. Quero que haja cinzas do teu rosto nas cinzas do meu corpo. Imperfeito velório onde não estás. Amanhã, arde o amor.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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