Há Governo? Sou lontra

O novo Governo de Portugal vai ter mais mulheres, o Parlamento eleito no início do mês tem mais mulheres, o Prémio Nobel da Literatura e o Booker Prize foram ambos atribuídos a mulheres. As mulheres estão a chegar a todo o lado (e ainda bem que assim é, não interpretem erradamente a frase anterior como um lamento. Esse vem no fim do parágrafo).

As mulheres já estão no futebol, na caça, até em barbearias. Não estará longe o dia em que o único local onde as mulheres não vão querer chegar seja o meu apartamento.
Para dar uma aparência de novidade, António Costa acrescentou nomes aos ministérios já existentes. Teremos, por isso, um Ministério do Ambiente e da Acção Climática. Espero também pelo Ministério da Educação e da Intervenção Estudiosa, ou pelo Ministério das Finanças e da Prestação de Contas. Mas não comece já o leitor a brandir a primeira página do “Diário de Notícias” no seu telemóvel.

Para efeitos de facécia, fingi omitir propositadamente dois ministérios que surgem do nada, esses sim, a água fresca de novidade que refresca a nova orgânica do Governo. Um é o Ministério da Coesão Territorial, uma necessidade absoluta num país com dimensões tão gigantescas como o nosso. Não entendo como Portugal não é hoje um amontoado de principados independentes sem um ministério dedicado à coesão do território – e espera-se, já agora, de quem lá vive. Se Costa lhe tem chamado Coesão Nacional, talvez até o Chega votasse favoravelmente o programa de Governo.

A outra brisa matinal da originalidade é o Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública. Aos socialistas não lhes basta ser tudo digital, mesmo com uma população idosa largamente analfabeta. É preciso modernizar ainda mais. E se for necessário agradar ao Livre! e ao Bloco de Esquerda, talvez o ministério possa ainda ver alterada a sua designação para Ministério da Pós-Modernização do Estado e da Revolução Permanente na Administração Pública.
Em 2023, quem propuser o Ministério da Tranquilidade leva o meu voto.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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