Do candeeiro de azeite ao petromax

Escrito por Albino Bárbara

Kant afirmou: «Duas coisas enchem-me o ânimo de admiração – o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim».
Há coisas que jamais poderão encher-me o ânimo. Uma dessas coisas é, sem dúvida, a estupidez.
Einstein dizia que duas coisas são infinitas: «O universo e a estupidez humana». E o que é estúpido continuará a ser estúpido mesmo que para tal se utilizem argumentos onde o disparate ganhe forma, chegando-se facilmente à conclusão do absurdo e do caricato de toda uma situação, mesmo que trazido por responsáveis que na letargia política usam a manhosice e o chico-espertismo tentando fazer dos outros parvos, quando doutamente tentam explicar que o investimento feito no interior envolve mais custos que no litoral e o que se paga por cá é «sinónimo de solidariedade nacional». Citando o saudoso Fernando Pessa, «E esta hein!».
O autor deste anedotário político, secretário em estado de incompreensão social, numa tentativa velada de meter a mão nos bolsos beirões, não percebeu que aqui já não se usa o candeeiro de azeite, muito menos o de petróleo e que o Velinhas (o de Mido) que, nos anos 70, apregoava “Quem merca as velas” já se foi.
Nesta eletrocussão política é hora de perceber que Portugal é o quarto país europeu mais pobre e mais dependente em energia e que é aqui que as energias alternativas não poluentes ganham forma e visibilidade: os nossos rios, a nossa bacia hidrográfica, as nossas barragens, as nossas serras. É aqui que se luta para acabar com a persistente estupidez espanhola da ultrapassadíssima energia nuclear. Porque é aqui, aqui mesmo ao lado, que conseguimos encerrar a Alameda de Gardón. Que Retortillo parou, faltando conseguir o encerramento definitivo da perigosíssima cafeteira velha e enferrujada da central nuclear de Almaraz.
Mas tudo isto não nos isenta de gastar energia. Talvez menos que em anos anteriores devido a um Inverno ameno e que encaixa na alteração climática do planeta.
A campanha do petromax que Galamba nos trouxe deixa em aberto, uma vez mais, a necessidade de dizer que aqui também há gente, também há massa crítica, também aqui se pagam impostos e que também aqui é Portugal.
E se nos querem impor uma série de novas atribuições, é tempo de definirem e apostarem na tal “solidariedade nacional” entre regiões cumprindo o preceito constitucional e neste ano eleitoral, 21 anos depois do referendo, é tempo de perguntarem novamente aos portugueses se vale a pena regionalizar. Para que haja autonomia e decididamente não ficarmos expostos a surpresas perfeitamente dispensáveis e desnecessárias…
Nota: 1.000 edições de O INTERIOR é obra. Sinceros parabéns. É uma honra partilhar com todos este momento.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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