Ainda os enfermeiros

Escrito por Diogo Cabrita

Factos importantes para analisar os acontecimentos atuais: 1. Ser enfermeiro desde o ano 2000 foi mais difícil do que ser advogado ou engenheiro, pois a média de entrada nos cursos era muito maior para Enfermagem. As universidades aceitavam médias negativas e as escolas de Enfermagem exibiam médias de 15 valores como mínimo. 2. O curso de Enfermagem tem 85% de mulheres, sendo entre as licenciaturas o emprego mais feminino desde país. 3. O ataque nas redes sociais à bastonária dos Enfermeiros é frequentemente sexista, imoral e sabujo. 4. A imoralidade de não aumentar salário e retirar direitos a uma geração de enfermeiros durante 20 anos é obra de ministérios sucessivos. 5. Há cedência na AutoEuropa, nos estaleiros (onde Portugal perdeu dezenas de milhões de euros), nalgumas reivindicações dos professores e dos técnicos paramédicos. 6. Os silêncios e as falsas verdades têm proporção gigantesca neste conluio de esquerdas, onde se nega a evidente permanência de austeridade, onde se omite os 750 mil incumpridores de pagamento aos bancos, onde se omite Victor Constâncio (socialista e responsável durante muitos anos da fiscalização dos bancos) quando se fala de Carlos Costa, do Banco de Portugal, onde se apaga o roubo de Tancos (um novo Camarate), onde se esconde a verdade do Novo Banco e a profundidade do BPN, onde se deixa cair de maduro o contrato da Brisa, onde se aferrolha o melhor hospital porque é PPP, onde se esconde a verdade do envelhecimento do Estado, a podridão das estruturas sem manutenção, a transversalidade da decadência das estruturas públicas, onde ninguém investiga as famílias inteiras de socialistas que se apoderam do aparelho de Estado sob a forma de deputados, chefes de repartição, diretores gerais, presidentes de fundações, dirigentes de ARS e hospitais, cargos internacionais (Ana Gomes e filha, César e filhos e sobrinhos, Vieira da Silva e mulher e filhos, Vital Moreira , mulher e filhos, Catarina e irmão, marido e primos e cunhados, …) 7. O ataque à revolucionária greve dos enfermeiros traduz o desnorte dos líderes sindicais do PCP e a incapacidade de fazer face à adversidade do Governo socialista já testada nos fogos de Pedrogão, no inadmissível ridículo de Tancos, nos relatórios da árvore criminosa que se movia e dançava na Madeira, no relato da comissão parlamentar sobre a CGD, na negociação dos Kamov, no buraco negro das dívidas da saúde a fornecedores. 8. Por tudo o que disse atrás a tentativa burlesca de fazer a Procuradoria cantar a música do Ministério, dando uma pauta hermética e truncada, é um momento torpe do PS e do seu governo. Os enfermeiros (devíamos dizer as enfermeiras) têm razão e não houve cedência nenhuma porque não se espera das mulheres o protagonismo da violência de rua. Já escrevi noutros tempos e lugares que os enfermeiros têm de resolver problemas internos enormes, mas são da sua lavra e devem lavar a roupa suja dentro de casa. Têm de discutir os cargos de ausência de função com doentes, a remuneração suprema a quem não presta cuidados e a miséria a quem cuida, têm de definir as especialidades que lhes competem, as carreiras, o número de formandos, o número de escolas, o seu protagonismo nos cuidados continuados e nos lares, enfim… não lhes faltam assuntos apesar de serem uma profissão bem antiga. Nesta greve e na forma de a realizar estamos perante um ato inovador e revolucionário ao estilo dos coletes amarelos franceses e com consequências imprevisíveis no futuro.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply