Há cidades que avançam a passos largos e firmes e há outras que, em vez de caminhar, ficam à espera que alguém as empurre. A Guarda, infelizmente, parece ter escolhido a segunda opção. Enquanto outros territórios planeiam o futuro, nós entretivemo-nos a propagandear quem corta a fita e a quem cabe a próxima “selfie” com uma retroescavadora ao fundo.
O problema não é de agora, é estrutural. O declínio demográfico não se combate com discursos inflamados, mas com políticas que deem razões para ficar. Hoje, a Guarda é uma terra onde se nasce e de onde se parte, não por falta de amor, mas por falta de futuro. As lojas fecham discretamente, as casas envelhecem em silêncio e a esperança faz as malas ao fim da adolescência. A desertificação económica, que alguns ainda tratam como ameaça, já está instalada. O comércio definha, as empresas fogem para territórios mais competitivos e o investimento passa por cá como um turista distraído… olha, mas não fica!
Tudo isto seria menos grave se houvesse uma estratégia. Uma visão. Um rumo. Mas não. A governação local tem-se limitado a uma gestão de calendário, com inaugurações no verão, promessas no outono, anúncios no inverno e silêncio na primavera. Como se o destino coletivo pudesse ser resolvido com um folheto de propaganda e uma revista lustrosa. E, como cereja no cimo do bolo, nos últimos tempos a cidade virou um museu ao ar livre de frases motivacionais, grande parte delas, decalcadas de há quatro anos.
E é aqui que entramos no domínio do quase tragicómico. A condução dos destinos do concelho está, neste momento, nas mãos de forças políticas que parecem mais preparadas para animar uma tertúlia de café do que para enfrentar os desafios de um território que está, literalmente, a esvaziar-se. Nada contra a boa vontade, mas a boa vontade não substitui a visão estratégica. É legítimo, e até necessário, duvidar da capacidade do PPM e do Nós, Cidadãos! para enfrentar problemas de uma dimensão que exige mais do que entusiasmo e improviso. É um pouco como entregar o comando de um avião a quem ainda está a aprender a andar de triciclo. A fé é bonita, mas não substitui o manual de voo.
Mas a responsabilidade não é apenas de quem governa. Também é de quem quer governar. O PSD, com a sua longa história na Guarda, não pode limitar-se a assistir do camarote. Precisa de uma verdadeira autoanálise, de um abanão interno que o devolva ao centro da solução e não apenas ao comentário lateral. Tem de se reorganizar, modernizar e construir um projeto que fale ao coração e sobretudo à razão dos guardenses. Porque a cidade não precisa de mais vozes a gritar que tudo está mal, precisa sim, de alguém que diga como fazer melhor.
Acredito, contudo, que esse caminho está a ser percorrido. Porque uma oposição construtiva não é a que grita mais alto, é a que pensa melhor, propõe melhor e fiscaliza com mais rigor. E se for capaz de o fazer, o PSD poderá apresentar-se em 2029 não apenas como alternativa, mas como esperança credível.
A Guarda precisa de mais do que discursos mornos e eventos de circunstância. Precisa de ambição com substância. Precisa de líderes com visão e projetos com horizonte, pois 2029 será um ano decisivo. Ou encontramos um rumo, ou ficamos a assistir ao lento, mas progressivo desaparecimento da cidade mais alta de Portugal.
O futuro não se espera, constrói-se e de preferência com gente que saiba para onde quer ir. Porque a Guarda é maior do que qualquer maioria e merece mais do que qualquer propaganda!
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos


