Opinião de José Valbom: O interior e a sustentabilidade ambiental

Escrito por José Valbom

Um novo Direito Humano nasce em 2022, apadrinhado pelas Nações Unidas: «O Direito a um Ambiente Limpo, Saudável, Sustentável».
Desde essa data quanto mais corremos atrás dele mais distante nos fica.
Realidade multifatorial cresce como bola de neve ancorada, essencialmente, nas seguintes determinantes:

a) Sobrepopulação;
b) Alterações climáticas;
c) Degradação dos ecossistemas;
d) Acelerada perda da biodiversidade;
e) Escassez de recursos naturais.

Em 1803, decorridos 200.000 anos do aparecimento da espécie humana, a população mundial fixou-se em mil milhões de pessoas. Em 2023 (220 anos após a cifra anterior), o mundo atingiu os 8 mil milhões de habitantes.
Em 1970, a “Terra Mãe”, nas palavras do Papa Francisco, perdeu a capacidade de regeneração para nos sustentar a todos. A título de exemplo: se todos vivessem como um português médio, a Humanidade necessitaria de cerca de 2,9 planetas para que a utilização de recursos fosse sustentável (Copernicus, 2024).
O ano 2024 foi o ano mais quente alguma vez registado. Está por um fio o recorde!
A redução das camadas de gelo, a subida do nível do mar, a acidificação dos oceanos e aumento da frequência e intensidade das catástrofes (inundações, secas e incêndios). Sabemo-lo por experiência própria.
Estima-se que 9 em cada 10 pessoas respiram ar com poluentes (OMS, 2022).
Em 2050 haverá (em peso) mais plástico nos oceanos do que peixes.
Nos últimos 50 anos assistimos (sem fazer nada!) à redução de 70% nas populações selvagens. (Quem fica surpreendido com o aumento das pandemias – Covid-19, etc,…)
A seca global afeta cerca de 55 milhões de pessoas.
Em Portugal, a seca com intensidade crescente no Sul, alastra para o Centro e Norte – Esgotamos o PRR sem uma aposta séria em barragens e regadio. Nunca fomos bons em planeamento!
A OMS lembra-nos que os fatores ambientais são os responsáveis (a tendência é crescente) por 1 em cada 4 mortes em todo o mundo.
É preciso dizer mais alguma coisa?!
É!
É claro que não podemos deitar a toalha ao chão.
O Interior do país, 4/5 de Portugal Continental, tem o papel determinante neste desígnio – a sustentabilidade ambiental.
Temos solo, embora em fase crescente de degradação pelo uso inapropriado, e essencialmente pelo abandono. Os incêndios fazem o resto.
Já temos pequenas manchas de desertificação.
O País vai continuar sem fazer nada?!
Por aqui nasce, e por aqui caminham, importantes linhas de água. A título exemplo, lembramos que pelo concelho da Guarda passeia água que vai drenar nas bacias do Tejo, Douro e Mondego.
Não vale a pena olhar para o interior?!
A elevada e crescente assimetria na distribuição da população a nível nacional constitui-se como uma moeda de duas faces. Por um lado, a sobrepopulação do litoral, com a consequente carência habitacional. Hoje, é consensual entre todos e é, para nós, a prova real da falência das políticas públicas nos últimos anos. Ao mesmo tempo temos na outra face da moeda – “territórios de baixa densidade” – com défice de população e serviços públicos.
Ninguém em Lisboa entende a noção da “justa medida”?!
A desflorestação, no essencial, provocada pelos incêndios é uma catástrofe. Drama humano na sua forma extrema – mortes. Problema social e económico com repercussões incalculáveis a médio e longo prazo. Estamos a prescindir de um dos fatores primordiais de sustentabilidade ambiental.
Não vale a pena pensar nisto?!
O bem de todos também passa por aqui!
A sustentabilidade ambiental, no essencial, está aqui!
O Bem Público e as Políticas Públicas também devem passar por aqui!

Palavras dos outros:
1) «O que mais me choca é verificar que permanece intransponível, em muitos casos, o fosso entre o que, nos anos 70, encontrei na Beira e o que acontece em Lisboa e na faixa costeira do nosso país».
“Memórias”, 2021, Francisco Pinto Balsemão

2) «…apesar da modernização, e dos 679 milhões gastos, na linha da Beira Alta vão continuar a circular os mesmos comboios com a mesma capacidade de carga de 2022 e a pagar mais 35% de taxa de uso …»
“Público”, 25.10.2025

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José Valbom

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