Cálculo pós-eleitoral

Escrito por Albino Bárbara

Agora que estão cumpridas todas as formalidades resultantes da eleição de 6 de outubro é mais que previsível que os partidos analisem os resultados eleitorais (alguns tarde e a más horas), percebendo-se que todos os olhos estão postos (e de que maneira) nas autárquicas de 2021.
Numa análise que tem e deve ser feita concelho a concelho, é visível a preocupação e uma (quase) escolha de eventuais candidatos, freguesia a freguesia. Há cálculos, calculismos e calculistas que embalados pela onda rosácea começam a ordenar-se, a travestir-se, estando já muitos calçados com sapatilhas de biqueira de aço para assumirem a eterna posição de bichos oportunistas em bico de pés.
Se em Aguiar da Beira o PSD deu uma abada ao PS, o futuro pode ser substancialmente diferente, pois a nomeação da autarca Rita Mendes para o Governo trará aos socialistas novo fôlego, podendo a Câmara continuar em mãos (próximas) dos socialistas.
Em Almeida, o PS ganhou com pouco mais de 30 votos, o que dá para entender que em 2021 o edil almeidense tem todas as condições para segurar a autarquia da fronteira. Tarefa muito difícil para os de rosa ao peito. Quanto a Celorico da Beira, os 30 votos de diferença que separam o PSD do PS têm leitura completamente diferente. Os socialistas, com terreno extremamente favorável, contam com a inércia de um presidente e de um executivo que pouco ou nada faz, mas não foram capazes de levar por vencida esta eleição, estando agora obrigados a rever toda a estratégia. A janela de oportunidade será a união de todos contra um laranjal cheio de contradições internas e com pouquíssima ambição.
Já em Figueira de Castelo Rodrigo um filho da terra apostava tudo na eleição, perdeu e verificou-se a vitória do PS percebendo-se que em 2021 a bandeira continuará cor-de-rosa. O mesmo acontecerá em Fornos de Algodres, não havendo certezas que na “cidade jardim”, onde o segundo do PS deu uma banhada no primeiro do PSD. Os 400 votos socialistas poderão vir a marcar enorme diferença. Com um executivo extremamente fraquinho bastará ao PS apostar forte para reconquistar a Câmara de Gouveia.
Em Manteigas há pouco para dizer. No “coração” da Serra da Estrela cada voto vale e desta vez os mais de 300 determinam que os da rosa possam continuar a cantar vitória em 2021. Na Mêda o PSD soube trabalhar e, numa Câmara arrancada a ferros, a direita impôs-se. Resta, contudo, afirmar que Ana Abrunhosa, antiga candidata laranja à Assembleia Municipal, é hoje ministra do roseiral. E desta forma fica tudo dito.
Quanto a Pinhel, os mais de 400 votos alaranjados falam por si. A não inclusão de Ângela Guerra, óptima deputada, determina um autêntico erro de palmatória e mais uma das argoladas políticas de Peixoto, “sus muchachos” e Rui Rio. Aqui o PSD é dono, senhor e rei.
O Sabugal é outro concelho onde a diferença de pouco mais de 70 votos poderá (não) vir a influenciar uma hipotética derrota dos sociais-democratas. O PS terá de apostar num candidato extremamente forte e muito credível, pois só desta forma conseguirá voltar a liderar a Câmara raiana. Em Seia, o PS está de pedra e cal e os mais de 1.300 votos confirmam-no. Desde que não assobie para o lado ou se deixe embalar pelo canto da sereia, o PS manter-se-á na autarquia serrana.
Quanto a Trancoso, os da rosa têm vantagem de pouco mais de 30 votos, o que os obriga, naturalmente, a um empenho redobrado para manterem a bandeira cor-de-rosa nesta autarquia. Já em Foz Côa o caso é deveras interessante. Vinte e poucos votos de diferença e sem a recandidatura do atual edil, a aposta rosácea tem de ser obrigatoriamente forte, o desafio aceite e assumido, porque aqui ele existe.
Deixei para o final desta crónica a capital de distrito, onde o pós-amarismo trouxe ao de cima contradições, traições, amuos, precipitações, inimizades, que só poderiam resultar num cartão vermelho ao laranjal. A Guarda foi e é muito fiel ao partido da rosa e a diferença de muitas centenas de votos confirmam isso mesmo. Os socialistas, agora embalados pelos belíssimos resultados das legislativas, poderão e deverão fazer uma aposta muito forte atirando assim com o barro à parede. Não têm nada a perder.
O revés da medalha poderá ser um laranjal envolto em problemas internos, onde alguns e algumas se vão posicionando, olhando apenas e tão só para o próprio umbigo, afirmando competências que efetivamente não têm. E isso é jogo de risco. Por outro lado, o laranjal pode assumir outras e novas posturas –para algumas e alguns, Amaro ainda manda, mas já não está cá –, reunir vontades, juntando companheiros desavindos, acabar (de vez) com a paz podre e a Câmara poderá assim continuar em mãos laranjas. Caso contrário… Lembram-se seguramente da história do rei que ia nu. A vitória política na capital de distrito vai ser mano a mano, com uma pequenina vantagem para o partido que tem o poder. Umas escorregadelas e… Aqui fica a história do passado, a leitura do presente e de um hipotético cenário futuro. Que pode ser possível. E pode muito bem ser este…

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Albino Bárbara

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