Cara a Cara

«Nestes anos tirámos 600 doentes do Hospital da Guarda»

Cara A Cara
Escrito por ointerior

P – Há quatro anos que a equipa de Hospitalização Domiciliária da ULS da Guarda vai a casa dos utentes, que balanço fazem deste projeto?
R – É um balanço extremamente positivo. A equipa continua muito motivada, dedicada a este nível de cuidados que acreditamos que seja o futuro dos nossos cuidados. Os doentes estão em casa, têm o conforto do seu domicílio, estão junto da família 24 horas e não perdem a oportunidade, ou possibilidade, de receber os cuidados de nível hospitalar que precisam em determinado momento, evitando um internamento hospitalar.

P – O que faz a equipa de Hospitalização Domiciliária?
R – Trata-se de levar a casa os cuidados de nível hospitalar, ou seja, são doentes que necessitariam ficar internados no hospital por diversas patologias, mas é a equipa de profissionais que se desloca até lá. Trabalhamos 24 horas por dia, os sete dias da semana e fazemos as visitas diariamente – uma a duas vezes por dia consoante o tipo de medicação necessária. A equipa é que leva a medicação e a administra, bem como o que seja possível fazer por via oral, também levamos do hospital e deixamos a posologia e as horas concretas que o doente deve cumprir. Temos um telemóvel que nos acompanha e está sempre operacional para que o doente nos contacte sempre que necessário.

P – Quem pode aderir ao serviço da Hospitalização Domiciliária?
R – Os doentes terão de cumprir sempre três critérios clínicos: têm de ter estabilidade, porque, acima de tudo, temos de ter segurança, e há patologias que não permitem o internamento em casa pelo nível de complexidade ou de monitorização, por exemplo, casos que obriguem os utentes a ficarem em ambiente hospitalar. Neste momento temos apenas sete camas, somos apenas uma equipa a funcionar e temos de prestar cuidados a esses doentes, portanto só conseguimos tratar doentes que residam numa área de abrangência que fica a cerca de 20/30 minutos de distância, no máximo, a partir do Hospital da Guarda. Há também critérios sociais que têm de ser cumpridos. Normalmente temos um cuidador que fica em casa com o doente e que é responsável, digamos assim, por fazer esta vigilância, por contactar a equipa e garantir que o doente cumpre todo o plano terapêutico que está instituído.

P – Neste momento por quantos profissionais é constituída a equipa?
R – Contamos com seis enfermeiros, quatro assistentes técnicos operacionais, um médico a tempo inteiro e outros colegas do serviço de Medicina que colaboram com a equipa sempre que há necessidade.

P – E quantos utentes têm ao vosso cuidado? Quantos já receberam os cuidados da equipa de Hospitalização Domiciliária?
R – Atualmente temos sete doentes em simultâneo, é a lotação da equipa. Já estamos muito próximos dos 600 doentes nestes quatro anos.

P – O raio de ação da equipa foi aumentado para chegarem a mais utentes. Nos próximos tempos, vai haver mais alterações?
R – Falando em localidades, fazemos até à zona da Vela, Benespera, Trinta, Fernão Joanes e toda a área do Mondego até próximo de Celorico da Beira. Do outro lado do concelho, vamos ao Codeceiro e Jarmelo. Em direção ao Sabugal, cobrimos até a zona do Adão e toda a área da cidade da Guarda. Neste momento não conseguimos alargar o raio porque contamos com 20/30 minutos de distância, mas se um doente estiver na Vela e outro no Rochoso já vai ser quase uma hora de distância entre as duas localidades. Não podemos perder a segurança nem o nível de cuidados aos doentes, por isso não conseguimos aumentar muito mais o raio de atuação. Claro que o nosso objetivo é chegar a cada vez mais pessoas, conseguindo também aumentar o número de camas e até ter duas equipas na rua para nos conseguirmos dividir em áreas geográficas e irmos mais longe.

P – Para aumentar os serviços, a equipa precisa de mais recursos humanos e técnicos. Há novidades para os próximos tempos?
R – Acreditamos que sim, é o nosso objetivo. Temos trabalhado para isso e os números têm demonstrado que, efetivamente, somos um serviço eficaz e seguro. Segundo os inquéritos de satisfação, 95 por cento dos doentes estão “totalmente satisfeitos”, os restantes cinco por cento estão “muitos satisfeitos” com o serviço e com o nível de cuidados. Acreditamos que será bom para todos se conseguirmos crescer, apesar de termos sempre estes constrangimentos: precisamos de mais uma viatura, precisamos de mais profissionais, é sempre isso que limita o crescimento das equipas, mas temos tido o apoio da ULS.

P – O serviço da equipa de Hospitalização Domiciliária ajuda o Hospital a libertar serviços?
R – Nestes anos foram 600 doentes que tirámos do hospital. Seriam utentes que teriam, obrigatoriamente, que ficar internados, portanto, foram 600 doentes que não necessitaram de ocupar uma cama hospitalar e puderam receber o mesmo nível de cuidados em casa.

P – E os profissionais que compõe a equipa de Hospitalização Domiciliária, como olham para o trabalho feito?
R – Olhando para trás e, em nome da equipa, estamos muito felizes com tudo o que conseguimos alcançar. Começámos do zero. A hospitalização domiciliária é uma coisa recente, mesmo a nível nacional. Saímos diretamente da pandemia da Covid para a Hospitalização Domiciliária, num momento de grandes restrições, mas conseguimos implementar este projeto. Começámos com cinco camas e aumentámos para sete. Queremos, num curto prazo, continuar a crescer. Enquanto equipa sentimo-nos muito motivados. Continuamos a inovar e a trabalhar com o nível de qualidade que temos demonstrado até agora.

 


 

Perfil

Paula Neves

Coordenadora do projeto Hospitalização Domiciliária da ULS da Guarda

Idade: 37 anos

Naturalidade: Guarda

Profissão: Médica

Currículo (resumido): Licenciou-se na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; Fez o ano comum e especialidade de Medicina Interna na Guarda; Passou por vários serviços na Medicina Interna – Unidade de AVC, internamento de curta duração, coordenou o internamento Covid e, desde 2021, coordena a equipa de Hospitalização Domiciliária; Pós-graduada nessa área e em Gestão de Unidades de Saúde.

Livro preferido: “A Mensagem”, Fernando Pessoa

Filme preferido: “O Rapaz do Pijama às Riscas”, Mark Herman

Hobbies: Ler

Sobre o autor

ointerior

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