Opinião de Fidélia Pissarra: O triunfo dos estúpidos

Escrito por Fidélia Pissarra

Por definição, um estúpido é alguém que, por falta de inteligência, não tem capacidade para compreender, discernir ou julgar. Os estúpidos serão, portanto, piores do que os porcos, animais considerados até bastante inteligentes, de George Orwell. Tanto piores quanto maior for a sua capacidade para extravasar os limites de uma quinta e essa, dada a facilidade com que impunemente se exibem nas redes sociais, é coisa que parece não lhes faltar. Como, de resto, o crescente número de adeptos da teoria de que a Terra é plana e de que a primeira-dama de França é um homem bem o comprovam. Acontece que, talvez por ambas estarem a ser capturadas pelo autarca de Lisboa, para acabar com problemas que só ele conseguirá identificar, a lei e a ordem, nestas coisas dos influenciadores e influenciados, parece coisa quase impossível de ser estabelecida.
Ora vejamos, antes da influenciadora americana Candace Owens, pretendendo colocar os franceses, e os europeus por entreposta pessoa, ao nível das amebas, afirmar a pés juntos que Brigitte Macron nasceu homem, já um tribunal absolvera as influenciadoras francesas, Amandine Roy e Natacha Rey, por não considerar, e bem, que afirmar tal coisa configurasse difamação. Claro que não configura porque, se assim acontecesse, mudar de sexo, direito legalmente reconhecido, equivaleria a uma ilicitude e quem o faz passaria a ser considerado cidadão impróprio, criminoso. Ao que parece, ainda não chegámos a esse extremo. Podemos nem andar lá muito longe, mas, por enquanto, do lado de cá do lago os patifes que manipulam os estúpidos, que virtualmente os seguem, ainda não conseguiram que acontecesse. Claro que não é por isso que tais gurus esmorecerão. Os estúpidos nunca se acabaram. Agora até estão todos à distância de um clique e, à boa maneira Orwelliana, de tão estupiditos, nem grande trabalho dão: quando os mentores são apanhados a mentir, logo lhes justificam o facto com as mentiras que inventam encontrar nos outros; quando são condenados por cometer crimes, igual. A um estúpido basta que se lhe grite uma qualquer ideia para que desate a defender o indefensável. Dispensa, ostensivamente, argumentos ou evidências, exibindo, alto e bom som, o seu orgulho na própria ignorância. Convencido de que, por um qualquer divino desígnio – os estúpidos tendem a ser muito dados a crer nas divindades que eles próprios inventam – está acima de qualquer humano, costuma contentar-se com que essas divindades lhe digam que o vão ajudar na sua cruzada contra a humanidade.
Satisfação bem evidente, por exemplo, na ligeireza com que os estúpidos acolhem a ideia de, arbitrariamente e por tempo indeterminado, poderem mandar para a cadeia, literalmente, qualquer pessoa. Nem sequer importa que essa pessoa não tenha nada a ver com eles e seja de outro país ou continente. A um estúpido considerar que uma pessoa lhe é inoportuna é quanto parece bastar para desatar a clamar por todo o lado: “cadeia com ele”. Aliás, a cadeia será mesmo uma das divindades mais veneradas pelos estúpidos. Desde incêndios, ao desemprego, passando pela pobreza, não há revés que, segundo os estúpidos, a cadeia não contrarie. Além da cadeia, o estúpido apenas conseguirá vislumbrar, dadas as suas limitações, como solução para todos os seus problemas as declarações de estado de sítio, à boa maneira americana, ou de invasão, à boa maneira russa.

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Fidélia Pissarra

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