O ano das decisões

Escrito por António Ferreira

Antes de mais, as eleições para o parlamento. Decidiu-se que, no essencial, ficaria tudo na mesma. Uma coligação vencedora, mas minoritária, uma esquerda minoritária, uma extrema-direita ameaçadora, um primeiro-ministro sob suspeita. O governo vai ter de produzir um orçamento, agora a ter em conta os efeitos da “pacificação” da função pública, do esgotamento da margem orçamental deixada por António Costa, dos efeitos das tarifas de Trump – tudo com o encargo de manter um superávit e baixar os impostos.
Depois, as eleições autárquicas. Pode ficar tudo na mesma na Guarda, concorrendo Sérgio Costa pelo movimento que o elegeu, pelo PSD ou pelo Chega. O PS parece conformado com o seu lugar na oposição e, de um lado ao outro do espectro político, não há uma ideia mobilizadora ou, sequer, uma explicação para o facto de cidades como Covilhã e Castelo Branco, sem falar em Viseu, que é de outro campeonato, nos terem deixado definitivamente para trás. Seja como for, temos eleições lá mais para depois do verão e, se ainda nem sequer há certezas sobre quem são os candidatos, porque temos de falar sobre as suas ideias? Será interessante ver o desempenho do Chega, e se é desta que se implanta nas autarquias ao nível da sua representatividade nacional, e a resistência do PS, agora com uma nova direção. Não acredito que o Chega avance muito: as autárquicas são muito personalizadas e continua a faltar-lhe matéria prima.
Quando os autarcas eleitos estiverem a tomar posse teremos a discussão sobre o orçamento. O governo vai reavaliar as previsões anteriores, fugir apesar disso em frente e sofrer a pressão das oposições e do funcionalismo público. Uns vão prometer o que não podem, já que é muito difícil reconhecer enganos entre a nossa classe política, e outros vão exigir o impossível. Pode ser esse o momento em que André Ventura vai desenterrar o caso Spinumviva, a não ser que queira esperar pelos dados da execução orçamental e o anúncio formal de que regressámos ao tempo dos défices.
Já em 2026 vamos ter as presidenciais. Faltam ainda candidatos nas autárquicas, mas sobram para a presidência. É como se aquelas fossem eleições menores, pelo menos para os partidos. Não são, e afetam muito mais a vida das pessoas do que as presidenciais mas é como se fosse ao contrário. As televisões e os partidos têm outras prioridades e se quiserem vender espaços de publicidade têm de assegurar audiências, mas isso é outra discussão.

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