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“Clínica Estrelinha” cura medo das crianças pelos médicos

Numa clínica onde os doentes são os bonecos, os mais pequenos assumem o papel de pais e auxiliam os “senhores da bata branca” durante a consulta.

A manhã de sexta-feira já ia a meio quando as portas da “Clínica Estrelinha” se abriram, no centro comercial La Vie, na Guarda. À espera das crianças do Lactário Dr. Proença, os primeiros “utentes” do dia, já estavam os médicos da Unidade Saúde Familiar (USF) Ribeirinha prontos para tratar das “doenças” dos seus bonecos.

Nesta iniciativa conjunta da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda e do centro comercial houve gabinetes improvisados e até um aparelho para fazer uma TAC, tudo para desmistificar o medo da bata branca por parte dos mais pequenos.Um objetivo que terá sindo atingido. Segundo a educadora de infância Cristina Ferreira, este receio «é algo muito presente nestas idades e a brincar, com os médicos, vão perdendo esse medo». Prova disso é Matilde Marques, de 5 anos. A sua boneca Francisca chegou à “Clínica Estrelinha” «com alergias», um problema que foi facilmente resolvido. «Nós não temos medo de ir ao médico, eles são nossos amigos», garantiu Matilde, que, no final da consulta, prometeu «cuidar bem» da sua boneca «para que ela fique bem de saúde».

Nesta ida rápida ao médico os bonecos são o meio de permitir que as crianças mantenham um contacto diferente com os profissionais de saúde. «É uma forma lúdica de levar os mais pequenos ao hospital e que ajuda a mudar a visão que têm dos médicos», considera a educadora de infância Otília Pires, do Centro de Assistência Social da Guarda. Este é o segundo ano que os seus alunos participam na atividade e a docente reconhece que dá frutos: «A parte afetiva na relação com as crianças é muito importante e aqui passa a haver uma relação de maior proximidade dos mais pequenos com o médico», adianta. Também do Centro de Assistência Social, Inês, de 5 anos, levou a boneca Rita ao médico «porque partiu um braço». Na “Clínica Estrelinha” fizeram-lhe um raio X, colocaram uma tala e a própria Inês ajudou na colocação de uma ligadura. «Foi o que gostei mais», confessa.

Já a boneca de Francisca «andou muito tempo ao sol e tinha dores de ouvidos». Na “consulta”, «viram-lhe os ouvidos e eu ajudei», contou, entusiasmada, acrescentando que ficou a saber que a sua boneca apenas «precisa de dormir». Por isso, quando chegasse a casa, Francisca ficou de «ver se os outros bonecos estão bem», declarou a menina também com 5 anos, que garantiu que não teve medo: «Gostei muito da visita ao médico», afirmou. O colega Simão tinha o seu boneco com as costas partidas. Desconfiado de que o assunto era «grave», não hesitou em trazê-lo para que fosse visto pelos «doutores». Para o curar, «fizemos uma TAC e dei-lhe um xarope. Vai ficar bem», garantiu o pequeno guardense de 5 anos. A “Clínica Estrelinha” esteve aberta durante três dias e os seus pequenos utentes foram “pais” preocupados pelo estado de saúde dos seus “filhos”. Ali ficaram a conhecer alguns medicamentos, fizeram análises e curativos e para casa levaram «um guia de receita que normalmente levam muito a sério», sublinhou Rita Maia.

A médica da USF Ribeirinha acredita que, «depois desta experiência, as crianças veem os profissionais de saúde como alguém amigo e posteriormente, quando forem ao verdadeiro ambiente médico, já perderam parte do medo». Da mesma opinião partilha o clínico Joaquim Nunes, para quem, mais tarde, «verificamos um comportamento diferente por parte das crianças com o médico». E se esta é uma experiência importante para os mais pequenos é-o também para os profissionais que colaboram na iniciativa. «Para jovens médicos como nós também se torna importante. No nosso dia-a-dia temos que lidar com crianças e também é uma espécie de treino», acrescenta Joaquim Nunes.

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