Região

Sócios chumbam venda da sede da ACG e pedem demissão da direção

Para Miguel Alves, «as dificuldades da ACG agravaram-se depois desta Assembleia-Geral»
Escrito por José Daniel

A Associação Comercial da Guarda (ACG) ficou «mais vulnerável» a pedidos de insolvência dos credores depois dos sócios terem chumbado a venda do edifício sede da instituição para pagar dívidas. O receio foi assumido pelo presidente da direção, Miguel Alves, na noite de terça-feira no final de Assembleia-Geral extraordinária pouco concorrida.

Na reunião, a que compareceram cerca de 30 associados dos 1.100 ativos, a proposta da direção foi rejeitada por maioria, tendo-se registado quatro votos a favor e cinco abstenções. A sessão foi tensa e agitada com os sócios presentes a contestarem as contas apresentadas por Miguel Alves e a sua gestão nos últimos dois mandatos. O dirigente foi o primeiro a falar e deixou bem claro que a ACG vive uma situação de «estrangulamento financeiro» e que não tem recursos para fazer face aos seus compromissos junto dos credores e fornecedores. «Em 2013 tínhamos um passivo de 2,1 milhões de euros e em 2017 ronda os 400 mil euros, mas não temos capacidade financeira porque as nossas receitas baixaram e as dificuldades da Associação irão agravar-se em 2019», disse Miguel Alves. O presidente da direção considerou que a venda do imóvel, avaliado em 721 mil euros, era uma «solução difícil, mas corajosa», e essencial para a Comercial ultrapassar os problemas de tesouraria e pagar aos credores.

O responsável elencou depois os valores devidos e revelou que, no final de 2017, a Associação tinha 487.899 euros de dívidas, dais quais 186.775 euros por empréstimos de fornecedores. Às Finanças eram devidos cerca de 15.582 euros e à Segurança Social 48.865 euros. A ACG devia ainda 74.866 euros a funcionários e prestadores de serviços, mais 24.080 euros de quotas a organizações do setor. No campo das receitas a situação é desanimadora, já que a instituição terá a receber 181.158 euros de projetos e 39.335 euros pela gestão das placas direcionais, uma área que deixará de gerir em 2019 por decisão da Câmara da Guarda, anunciou Miguel Alves. No entanto, não há relatórios de contas de 2016 e 2017 por falta de dinheiro para pagar ao contabilista, acrescentou o responsável.

A confissão deixou a Assembleia em polvorosa. O empresário José Prata classificou mesmo a apresentação das contas como «um borrão sem credibilidade» e António Henriques, CEO da CH, o maior credor da ACG, acrescentou que a situação era «surreal» e configurava um caso de «pura gestão danosa», avisando que, perante esta situação, «os fornecedores vão pedir a insolvência da ACG». Outro associado afirmou que «merecíamos uma auditoria para saber o que se passou aqui». Na resposta, Miguel Alves assumiu que a «imperfeição dos documentos é reflexo do estrangulamento que a Associação tem vindo a sofrer» e que a instituição «não tem capacidade para apresentar um relatório de contas». A polémica subiu de tom quando o dirigente falou nos 84.536 mil euros que reclama por pagamentos da ACG e despesas de representação, tendo apresentado uma ação em tribunal. «Os valores foram devidamente registados e validados pela direção», disse o dirigente. Mais uma vez, José Prata foi o primeiro a falar: «Isto é uma aldrabice para o senhor se cobrar», denunciou, enquanto outro associado acrescentou que o presidente da direção «não tem nada que emprestar dinheiro» à ACG. «O senhor tem algum banco em casa?», interrogou o comerciante. Às críticas Miguel Alves respondeu que a sua intenção era «emprestar mais porque a Associação precisava de dinheiro e mais ninguém se disponibilizou a fazê-lo».

Pedida demissão da direção

Já a venda do imóvel, que tem pendentes duas hipotecas a favor do fisco e da Segurança Social, foi contestada com o argumento de que as direções anteriores «nunca o quiseram registar em nome da Comercial por precaução, para evitar este tipo de desfecho», disse Filipe Rebelo. Já António Henriques considerou que «vender não é solução nenhuma e não resolverá o problema da Associação» e José Prata afirmou que se estava a assistir «à morte da ACG», tendo abandonada a reunião. O empresário já não participou na votação e também não ouviu António Henriques pedir a demissão da direção de Miguel Alves – que conta atualmente quatro elementos na sequência da demissão dos restantes três nas últimas semanas –: «Têm que aprovar contas antes de se demitirem, é o mínimo que têm a fazer para sair com dignidade», disse o empresário, que admitiu votar favoravelmente a venda do edifício sede «quando houver uma direção com um projeto empresarial para a Associação».

Também o presidente da Assembleia-Geral, Seguro Pereira, recomendou a demissão da direção, a criação de uma comissão administrativa, a marcação de eleições e a negociação das dívidas com os credores para «recuperar a Associação, mas há todos estes problemas», constatou. O advogado alertou que se «deixarmos que o imóvel seja vendido num processo de insolvência perde-se mais dinheiro e o património» da ACG.

No final, em declarações aos jornalistas, Miguel Alves escusou dizer se vai demitir-se e adiantou que a direção vai reunir para considerar as recomendações desta Assembleia-Geral extraordinária e «outras soluções financeiras alternativas, que têm sido esgotadas nos últimos anos». «A direção não sai fragilizada pela rejeição da venda do imóvel, mas é urgente uma solução financeira, que poderá não passar por esta direção», considerou o responsável. O presidente da direção acrescentou que, após esta reunião, será «expetável» que os credores e fornecedores avancem com pedidos de insolvência porque a Associação não tem uma «solução de curto prazo para fazer face aos seus compromissos». Para Miguel Alves, «as dificuldades da ACG agravaram-se depois desta Assembleia-Geral».

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