Da obliteração à acentuação de desigualdades

1. Como noticiámos em 20 de dezembro, o Governo deverá confirmar a cedência da Pousada da Juventude ao Politécnico da Guarda. Apesar da surpreendente oposição do executivo municipal, o IPG terá apresentado argumentos e um bom plano para convencer a tutela de esta é a melhor opção para a revitalização do edifico.
Recorde-se que a Pousada foi encerrada pelo governo de Passos Coelho em 2012 (numa decisão governamental em que foram encerradas, com a da Guarda, as Pousadas de Juventude de Vila Real, Setúbal, Leiria e Portalegre). Sete anos depois, com o edifício fechado e em deterioração, sem solução à vista e perante o silêncio de todos, o Politécnico reclamou-o para ali instalar nomeadamente alguns dos estudantes estrangeiros (perto de 500) que frequentam aquele estabelecimento de ensino superior e que têm enfrentado grandes dificuldades para encontrar alojamento na cidade. Mas a cedência inclui também o compromisso por parte do IPG de manter alguns quartos destinados ao turismo juvenil. Ou seja, em resposta àqueles que consideram necessária a manutenção de uma Pousada de Juventude (a mesma que encerrou e tinha uma “baixíssima” taxa de ocupação e cuja inexistência durante sete anos não foi notada, nestes “tempos” do hostel e do airbnb) vai haver capacidade de receber turistas nesse regime no complexo a ceder ao IPG. Aguarda-se, pois, a confirmação de uma cedência que faz sentido (entretanto, há alunos hospedados em sítios menos condignos, como a antiga cooperativa agrícola na Avenida Alexandre Herculano). Sete anos depois o edifício poderá ser requalificado, resolvendo-se um problema de carência habitacional para os estudantes, na zona onde já funcionam os serviços sociais do Politécnico, e onde deverá haver um espaço sempre aberto para os alunos se alojarem, estudarem e interagirem.

2. Este é mesmo um ano de eleições. Se dúvidas houvesse bastaria analisar a forma como o aumento do salário mínimo para a função pública foi promovido, criando uma dualidade e diferença entre o salário mínimo nacional e o salário mínimo da função pública – o Estado pode fazer as simpatias que quer aos seus trabalhadores, pois basta aumentar mais alguma taxa ou imposto para gerar receita suficiente para albergar esses aumentos; o mesmo não poderão fazer as empresas que estão cada vez mais exauridas com impostos e, na generalidade, dificilmente poderão pagar mais aos seus trabalhadores pois têm de suportar uma carga fiscal elevada para os governos poderem garantir simpatias aos seus eleitores.
Não bastava sermos um país dividido social e economicamente entre interior e litoral, de diferentes “velocidades” de desenvolvimento e sem coesão territorial, de direitos diferenciados na saúde ou na educação, com dois milhões de pobres, agora temos também uma segregação nos salários mínimos para quem trabalha no Estado ou no privado.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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