Sociedade

Vida e obra de Pinto Balsemão, cidadão honorário da Guarda

Escrito por Luís Martins

Francisco Pinto Balsemão era, desde março de 2023, cidadão honorário da Guarda, tendo recebido a Medalha de Honra, Grau Ouro, do município, pelos seus feitos na política, no jornalismo, no empreendedorismo e também as ações de solidariedade e de apoio económico dos seus antepassados, responsáveis pela implementação da primeira fábrica de eletricidade do concelho e pela fábrica de têxteis no Rio Diz.

O presidente do grupo Impresa, que gere a SIC e o jornal “Expresso”, faleceu esta terça-feira aos 88 anos. Na altura, Pinto Balsemão disse-se emocionado com a distinção e a homenagem, e recordou alguns momentos da infância vividos na cidade mais alta – onde ainda tem familiares – e os primeiros passos dados na vida política, uma vez que foi deputado do círculo da Guarda, no início da década de 70, eleito pela “Ala Liberal”, um grupo de deputados que chegaram à Assembleia Nacional na chamada “Primavera Marcelista”. Entre eles estavam Francisco Sá Carneiro ou Mota Amaral.

Deixa uma marca indelével na democracia e nos media em Portugal. Francisco Pinto Balsemão foi primeiro-ministro entre 1981 e 1983, na sequência da morte de Francisco Sá Carneiro no acidante de Camarate. Antes, em 1963, iniciou-se no jornalismo no vespertino “Diário Popular”, onde começou como secretário de redação e foi jornalista durante sete anos. Em 1973, aos 34 anos, fundou o semanário “Expresso”, um projeto inovador na área dos media em Portugal inspirado no jornalismo anglo-saxónico.

Foi diretor do jornal, que se tornou uma referência na imprensa portuguesa, até 1979, ano em que o cargo passou a ser ocupado pelo então jornalista Marcelo Rebelo de Sousa. O sucesso do “Expresso” acabaria por resultar na fundação de um dos maiores grupos de comunicação social do país, a Impresa. Em outubro 1992 fundou a SIC, o primeiro canal privado de televisão em Portugal, do qual foi presidente do Conselho de Administração até à sua morte.

Além do “Expresso”, a Impresa detém ou deteve, por exemplo, a versão portuguesa do jornal “Courrier Internacional”, o jornal “Blitz”, “Jornal de Letras” e as revistas “Visão”, “Exame”, “Exame Informática”, “Caras”, “Activa”, “TV Mais”, “Telenovelas” ou “Caras Decoração”.

Na política, Francisco Pinto Balsemão fundou, com Sá Carneiro e Joaquim Magalhães Mota, o Partido Popular Democrata (PPD) – mais tarde PPD/PSD, a 6 de maio de 1974, tendo sido o militante número 1. Foi deputado e vice-presidente da Assembleia Constituinte, de 1975 a 1976 e nas eleições de 1979, 1980 e 1985 foi eleito deputado à Assembleia da República. Foi Ministro de Estado Adjunto no VI Governo Constitucional, com Sá Carneiro como primeiro-ministro (após a vitória por maioria absoluta da AD nas eleições legislativas intercalares de dezembro de 1979).

Depois da tragédia de Camarate (que resultou na morte de Sá Carneiro), Pinto Balsemão foi eleito presidente do PSD pelo Conselho Nacional e designado pelo partido para assumir o cargo de primeiro-ministro, a 13 de dezembro de 1980. Assumiu uma agenda reformista que ficou marcada pela aprovação da histórica revisão constitucional de 1982, tendo concluído ainda as negociações com Bruxelas que permitiram a adesão de Portugal à então CEE. A 4 de setembro de 1981 tomou posse como primeiro ministro do VIII Governo Constitucional.

Figura incontornável da vida social, política e empresarial portuguesa, Francisco Pinto Balsemão foi reconhecido ao longo da sua vida e carreira com as mais variadas distinções e prémios, a nível nacional e internacional.  Em 2010, recebeu, por exemplo, o doutoramento Honoris Causa pelas universidades Nova de Lisboa e da Beira Interior e em 2023 pela Universidade Lusófona.

Em 1973, foi agraciado com o título de Grande-Oficial da Ordem de Benemerência de Portugal; em 2006 com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique e em 2011 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Em março de 2025 recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Camões. Em março de 2023, a Câmara da Guarda atribui-lhe a Medalha de Honra, Grau Ouro, do município, e declarou Pinto Balsemão Cidadão Honorário da cidade.

Francisco Pinto Balsemão era neto do empresário homónimo que, no século XIX, mandou instalar uma pequena central hidroelétrica no sítio do Pateiro, nas margens do rio Mondego, que
era servida por um açude criado em Vila Soeiro. Em 1896, Francisco Pinto Balsemão, avô, celebrou com a Câmara Municipal da Guarda um contrato para a implementação de um projeto de iluminação pública.
A 1 de janeiro de 1899, a Guarda tornou-se a terceira cidade do país com luz elétrica proveniente de uma central hidroelétrica. Em 1907, a central passou a ser explorada pela Empresa de Luz Eléctrica (ELE) da Guarda e, mais tarde, pela EDP Produção.
O Conselho de Ministros aprovou, esta quarta-feira, o decreto de luto nacional de dois dias pela morte de Francisco Pinto Balsemão, a cumprir esta quarta-feira e quinta-feira.

 

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Luís Martins

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