Especial Pinhel - Feira das Tradições

Criada há 250 anos, Diocese de Pinhel mantém «o título válido»

Escrito por Jornal O Interior

Descentralização do clero português esteve na origem da elevação de Pinhel a cidade

Há 250 anos, Pinhel foi elevada a cidade para que nela pudesse ser estabelecida a sede de um novo “Bispado” durante o reinado de D. José I. De acordo com informação disponibilizada pela autarquia, «a excessiva extensão dos bispados de Lamego e Viseu, que administravam eclesiasticamente a maior parte da província da Beira e as reformas empreendidas pelas políticas pombalinas, foram duas das razões que levaram D. José I a solicitar ao Papa a criação do novo bispado».

A intenção era que o novo bispado fosse constituído por 225 paróquias, mas por ser considerada inconveniente a separação de Entre Côa e Távora da diocese de Lamego ficou abrangido um total de «142 paróquias (as 50 de Riba Côa, retiradas a Lamego, e as 92 dos arciprestados de Castelo Mendo, Pinhel e Trancoso, desanexadas de Viseu», de acordo com o livro “Diocese de Pinhel (1170-1882) – Antologia Documental”, da autoria de Jesué Pinharanda Gomes e Manuel Clemente Neves. A diocese de Pinhel viria a ser criada pelo Papa Clemente XIV, em decreto apostólico datado de julho de 1770, e a Sé instalada na Igreja de São Salvador, passando posteriormente para a Igreja de S. Luís. O Bispado foi assim criado a 10 de julho, sendo o alvará que oficializa Pinhel como cidade datado de 25 de agosto. «O Papa criou uma cidade episcopal e o Rei criou depois a cidade civil», lê-se na obra “Pinhel Falcão”, monografia da cidade assinada por Ilídio da Silva Marta.

À época, o panorama político e as divergências do clero com a Câmara Municipal impediram a afirmação da diocese de Pinhel ao ponto da autarquia chegar mesmo a bloquear a construção da Sé Catedral. «Apesar da conjuntura desfavorável foi mandado construir, pelo terceiro bispo de Pinhel, D. António Pinto Mendonça Arrais, o Paço Episcopal que atualmente funciona como Casa da Cultura», segundo informações do município.

112 anos após a sua criação, a diocese pinhelense, em conjunto com as dioceses de Penafiel, Castelo Branco, Aveiro e Elvas, foi, no entanto, suprimida. Na obra de Jesué Pinharanda Gomes e Manuel Clemente Neves são apontadas como causas desta extinção a pobreza dos povos destas regiões, a fragilidade do seminário, «muito carenciado», a «inexistência de uma corporação capitular» e a «falta de clero». Assim, a 30 de setembro de 1881, a bula papal de Leão XIII estabeleceu a extinção desta diocese que, ao longo da sua história, totalizou cinco bispos. Apesar disso, «Pinhel foi bispado extinto para sempre, mas o título continua válido», reiteram os autores do livro datado de 2002, onde, a título de exemplo, fazem menção a D. Thomas K. Gorman, bispo norte-americano titular de Pinhel, que em 1971 fez uma visita de cortesia à cidade.

«A diocese de Pinhel, em pouco mais de um século de existência e na sua curta série de prelados, é, ainda assim, um elucidativo exemplo do que foi a vida da Igreja Católica em Portugal entre o regalismo absolutista e o regalismo liberal», sublinha ainda Manuel Clemente Neves, num dos textos do referido livro.

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Jornal O Interior

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