O modelo político de governação do país por um executivo socialista minoritário, com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, merece ser analisado para além da mera questão político partidária.
Este governo que popularmente chamam de “geringonça” pela circunstância de ser suportado por uma multiplicidade de acordos, garantidos mais pelo condicionalismo pós-eleitoral que pela coerência das soluções, tem garantido a estabilidade política e as metas orçamentais acordadas com Bruxelas.
É certo que para a estabilidade política que se vive no país muito tem contribuído a ação inteligente do Presidente da República, que sabe quão importante é garantir uma solução de governo que coloque os partidos de esquerda na partilha e corresponsabilidade de soluções e políticas no quadro da nossa relação institucional com a Comunidade Europeia.
É justo, porém, que se reconheça a autoria moral desta solução de governo ao líder do Partido Comunista, que compreendeu a necessidade estratégica para os seus interesses de garantir na esfera pública o importante setor dos transportes, onde a CGTP tem um baluarte significativo.
Mas é ao primeiro-ministro António Costa que cabe a destreza quase diária de assegurar todos os equilíbrios.
Esta solução de governo é vital para a consolidação do modelo de capitalismo social que representa o quadro institucional e constitucional onde vivemos no seio da União Europeia.
Porquê?
Porque a União Europeia não pode ser só uma união económica, tem de ser uma unidade política e ideológica e nela devem convergir todas as soluções político-partidárias existentes nos países da Comunidade com o objetivo de assegurar coesão, estabilidade e equilíbrio.
A necessidade dessa convergência na ação e na ideologia tem levado a uma recomposição político-partidária nos diversos países, verificando-se em todos eles o desaparecimento do Partido Comunista, com exceção de Portugal.
Mas também se verificou o aparecimento de novos partidos de cariz mais libertário e populista que representam motivo de preocupação.
O envolvimento de partidos aparentemente fora do sistema na corresponsabilização de políticas de governo é um fator de estabilidade política no quadro da União.
Desde que esses governos assegurem o compromisso com as metas do défice, do crescimento do PIB, do controle da dívida, do equilíbrio da balança comercial e da estabilidade política, está assegurado o modelo de capitalismo social que caracteriza a economia europeia, mesmo que com a ajuda de partidos de influência marxista.
Não é certamente o triunfo de Marx!
Por: Júlio Sarmento
* Ex-líder da distrital da Guarda do PSD e antigo presidente da Câmara de Trancoso


