Em primeiro lugar, espera-se pelo Verão. Tivemos já as primeiras ameaças de calor e os primeiros incêndios florestais. Os pinhais estão outra vez cheios de mato, pinhas, caruma, pois o Inverno foi húmido e a Primavera cumpriu o seu dever. A canícula, quando chegar, rebentará em chamas ao menor pretexto. Atitude geral de prevenção a este respeito? Rezar para que a temperatura não suba. Registe-se, entretanto, a ressurreição de milhares de árvores no concelho de Mação, árvores que se julgavam mortas depois dos incêndios do ano passado. Dos troncos calcinados irromperam novos ramos e uma gloriosa profusão de folhas verdes, miraculosamente vivas.
O Verão não é Verão se não houver esplanadas. Dizem-me que a Câmara Municipal da Guarda se prepara para fazer subir as taxas, assim inviabilizando as poucas que sobram na cidade. Não acredito. O Café Central, a Madrilena, a Alameda, entre outros, tornam o Verão da Guarda mais suportável. Sem as suas esplanadas, só apetece emigrar. O que seria da Praça Velha sem as mesas em frente aos balcões, estrategicamente colocadas de forma a poder admirar-se a Sé à distância, com o respeito que ela merece?
Esperamos também pelo Euro 2004 e pela invasão do país por hordas de hunos e bárbaros. Todas as ilusões de que a segurança estava garantida ficaram esfumadas no último fim-de-semana às mãos de meia dúzia de sportinguistas a cair de bêbedos. Imaginem agora que se tratava do mau perder de ingleses ou alemães…Imaginem também que se lembram de vir carpir as mágoas para as esplanadas da Praça Velha.
Acabou o dinheiro barato. As taxas de juro, as mais baixas dos últimos cinquenta anos, vão subir. É inevitável. Essa inevitabilidade era previsível e não agimos em conformidade. Quando vierem em força com o discurso da retoma, quando quiserem convencer-nos a investir de novo, irão fazê-lo com o dinheiro substancialmente mais caro. A foice gira debaixo dos nossos pés e dizem-nos para saltar no momento errado.
A Europa chegou aos Urais. A típica atitude do português, sobretudo do empresário português, foi de lamentação pela previsível perda dos “apoios”, dos “subsídios”, dos “fundos”. No fundo, pela compensação administrativa à falta de produtividade e competência. Veremos como se portam agora os trinta e oito milhões de polacos, os dez milhões de húngaros, os lituanos, os estónios, os malteses, os outros todos, veremos se aproveitam produtivamente a ajuda da Europa ou se é a vez dos seus empresários de comprar um jipe e uma vivenda junto à praia.
Por: António Ferreira


