Não deve ser novidade para ninguém que o Interior está cada vez mais desertificado. Prova disso são os números: segundo a Pordata, 82% dos portugueses vivem no litoral e por litoral entenda-se todas as localidades a 45 km ou mais da praia e dos grandes centros como Lisboa ou Porto. Os outros 18%? Estão no interior em distritos como a Guarda e a Covilhã.
Para perceber bem a diferença, imagine um km2, que é aproximadamente 10 campos de futebol. Agora imagine que nesses 10 campos de futebol existem 181 habitantes. Noutra situação, imagine os mesmos campos de futebol, mas com apenas 40 habitantes. Não deve ser preciso dizer qual é qual e que isto se refere à diferença de densidade populacional entre ambos.
Entre outras coisas, isto também se justifica pela falta de oportunidades que existem no interior e, claro, na dificuldade em atrair e reter talento na região. Se, por muitas vezes, se fala na qualidade de vida e do ar puro característico da região, é inegável também pensar na diferença de oportunidades de emprego que existem em capitais de distrito no litoral vs no interior. No entanto, a tecnologia está a ajudar a mitigar isso.
Ela tem desenvolvido um papel fundamental a encurtar kms fazendo com que os colaboradores comecem, cada vez mais, a olhar para o interior com outros olhos. Plataformas como a Factorial, um software de gestão empresarial, acabam por assumir um papel importante onde o foco são as pessoas. Essas apps permitem gerir de forma integrada todo o processo de onboarding, garantindo que a integração de novos colaboradores é completa, bem como realizar avaliações de desempenho de forma transparente e consistente.

Interior é sinónimo de agricultura e silvicultura?

Resposta curta e objetiva? Não! O interior é muito mais que isso. Se, em tempos, esses setores eram sinónimo das oportunidades existentes no interior, hoje não é assim. Existem vários exemplos que provam o contrário. Olhe, por exemplo, para o Data Center na Covilhã. Sabia que é um dos maiores do mundo? Ele foi colocado na cidade da lã e já deu emprego a mais de 1400 pessoas. Atualmente, tem apenas 200 funcionários, mas há uma expectativa grande de crescimento.
Ali ao lado da Covilhã, no Fundão, existem dezenas de empresas com um volume de funcionários também muito interessante. A Altran, a Logicalis ou a Readiness IT são apenas 3 exemplos disso. As empresas viram no interior e, mais propriamente, na cidade da cereja, uma sede para crescer. Este tipo de cidades oferecem habitação mais barata, menos trânsito e melhor qualidade de ar e, dependendo dos gostos, de temperatura.
Claro que a agricultura e a silvicultura ainda são grandes pilares da economia local, mas as coisas estão a mudar. Há cada vez mais startups e empresas tecnológicas a mudarem-se ou a criarem-se na região, muito também por “culpa” de vários incentivos do estado que têm espoletado um espírito empreendedor mais acentuado na região.
Políticas públicas e incentivos para fixação de talento no interior

Nos últimos anos, o Governo tem vindo a lançar programas estratégicos para inverter a tendência de desertificação e apoiar a fixação de pessoas e empresas no interior. O Portugal 2030 é um exemplo marcante: 40% dos fundos europeus estão destinados a territórios de baixa densidade, incluindo apoios a fundo perdido que podem chegar a 50% para micro e pequenas empresas. Esta medida não só estimula o empreendedorismo, como cria condições para que projetos inovadores possam nascer e crescer fora dos grandes centros urbanos.
Ao mesmo tempo, surgiram iniciativas direcionadas para quem deseja trabalhar ou viver no interior. O programa Emprego Interior Mais atribui até 4.827 euros a trabalhadores que se mudem para estas regiões, abrangendo também teletrabalhadores. Já na vertente da qualidade de vida, programas como o Habitar no Interior procuram tornar a habitação mais acessível e reforçar as infraestruturas locais. Estes incentivos, quando conjugados com as oportunidades trazidas pela tecnologia, tornam o interior mais competitivo e atrativo para novos talentos.
Também no ecossistema de inovação surgem sinais positivos. O programa “Portugal de Startup em Startup”, uma parceria entre a Microsoft, a Startup Portugal e a Beta-i, foi criado para promover a descentralização da inovação e valorizar startups localizadas fora dos grandes centros urbanos, incluindo o interior e regiões autónomas. Embora tenha terminado, existe a expectativa de reabertura a qualquer momento. O investimento de até 1 milhão de euros traduziu-se em acesso gratuito à tecnologia cloud Microsoft Azure, além de oportunidades para as cinco startups selecionadas desenvolverem projetos em parceria com grandes empresas tecnológicas.
Como pode a tecnologia assumir o papel principal
A par com os apoios governamentais, a tecnologia assume um papel determinante. As duas, em conjunto, formam o combo perfeito para ver esta parte do país a florescer. A tecnologia tem vindo a reduzir a dependência da proximidade física a grandes centros urbanos, permitindo que profissionais altamente qualificados possam trabalhar a partir de qualquer ponto do país.
Em 2024, mais de 1,1 milhões de pessoas em Portugal declararam ter trabalhado a partir de casa, o que representa cerca de 21,5% da população empregada. Deste grupo, quase um quarto já exerce funções totalmente remotas, enquanto o restante segue modelos híbridos. Esta flexibilidade abre a possibilidade de viver em localidades do interior sem comprometer carreiras em setores como tecnologia, finanças ou serviços especializados.
Além disso, os fatores de qualidade de vida tornam-se cada vez mais decisivos na escolha residencial. O interior oferece rendas mais baixas, menor congestionamento, menos poluição e uma ligação mais direta à natureza, aspetos valorizados sobretudo por gerações que privilegiam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Programas como o Emprego Interior MAIS, que desde 2020 já atraiu centenas de famílias para territórios de baixa densidade, reforçam essa atratividade ao conceder subsídios que podem ultrapassar os 4.800 euros por agregado, incentivando mudanças permanentes para regiões menos povoadas.
No entanto, todo este movimento só é possível graças ao investimento contínuo em infraestrutura digital. Atualmente, cerca de 70% dos acessos fixos no país já são feitos por fibra ótica, e estão em curso projetos financiados pela União Europeia no valor de 172 milhões de euros para levar internet ultrarrápida (até 1 Gbps) a zonas do interior sem cobertura adequada. O Governo estima aplicar entre 300 e 400 milhões de euros até 2027 para garantir conectividade total, incluindo 400 mil casas em municípios.
Mais do que fixar pessoas, é preciso valorizá-las
Qualquer pessoa que seja um gestor numa empresa do interior, sabe o quão importante isto é. As pessoas que lá habitam precisam do trabalho, mas há aqui uma necessidade bilateral porque os empregadores da zona sabem o quão difícil e dispendioso pode ser substituir alguém. Uma forma interessante de valorizar os trabalhadores pode passar por oferecer-lhes formações e certificações. No entanto, não devem ser aquelas formações para “encher chouriços”. Devem ser coisas que lhes permita, quem sabe, progredir na carreira depois de adquirir certas valências.
O salário importa e é determinante na escolha entre sair ou ficar. Além de dar ferramentas às pessoas, é também preciso dar-lhes um salário competitivo para que sair para outros locais não lhes passe pela cabeça. Por último, para todos aqueles que trabalham em remoto ou híbrido, será importante dar-lhes apps de RH para que possam gerir de forma quase autónoma e simples as suas férias, folhas de ponto, ausências… a ideia é dar uma maior flexibilidade ao colaborador.
O interior precisa de um rebranding
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Apesar de todo o potencial e dos sinais de transformação, o interior ainda sofre de um mau marketing que o coloca muitas vezes como uma zona onde “não se passa nada”. Esta percepção está longe da realidade. A Covilhã, por exemplo, tem uma vida cultural ativa, com uma agenda regular no teatro municipal que recebe os mesmos humoristas e artistas que enchem salas em Lisboa ou no Porto. No verão, as praias fluviais de Vila Real são um refúgio perfeito, oferecendo lazer e natureza em ambientes que rivalizam com as praias do litoral. Além disso, o interior tem excelentes universidades, como a Universidade da Beira Interior (UBI), que tem vindo a ganhar prémios e reconhecimento internacional.
Outro exemplo inspirador é o do Fundão, que se tem afirmado como um verdadeiro pólo tecnológico. Com iniciativas como o Move to Fundão, o município tem conseguido atrair startups, dinamizar a economia local e criar uma comunidade tech cada vez mais consolidada. Esta aposta tem mostrado que, com visão estratégica, é possível transformar territórios de baixa densidade em pólos de inovação e competitividade, capazes de fixar talento e gerar novas oportunidades.
O que falta agora é amplificar esta mensagem. São necessárias grandes campanhas de comunicação, desde ações nas universidades até spots em televisão, para mudar a percepção instalada sobre o interior. Mais do que apenas locais de passagem, estas regiões oferecem condições para trabalhar, aprender e viver com qualidade. E, talvez o mais importante de tudo: oferecem a possibilidade de viver com calma, algo que muitas pessoas parecem ter esquecido no corre-corre das grandes cidades.
A tecnologia e os incentivos públicos estão a transformar o interior num território cada vez mais competitivo e atrativo para viver e trabalhar. O desafio agora é comunicar melhor este potencial, mostrando que o futuro também se escreve longe do litoral.



