Guarda goes to Vaticano

Escrito por Pedro Narciso

Um conjunto alargado de pessoas dirigiu-se para o local onde se encontrava o seu líder espiritual, esperou pacientemente pela sua aparição, rezou as suas preces de libertação, para que no final, tivesse o privilégio de lhe ofertar uma rica peça da melhor lã virgem. Nunca julguei estar vivo para ver, de cachecóis ao alto, a constituição da Igreja de Nosso Sr. Bruno de Carvalho dos últimos dias. No mesmo patamar de incredulidade, só mesmo continuar a chamar de laico o Estado português.
Curiosamente, na mesma semana em que se desenrolava este “reality show” religioso, uma alargada comitiva de órgãos autárquicos do concelho da Guarda, e não só, deslocou-se ao Vaticano para entregar um cobertor de papa e uma medalha de ouro. Julguei que essas duas peças caberiam na mala de apenas um peregrino, mas fiquei a perceber rapidamente que pode haver dinheiro de IMI mais mal empregue do que aquele que acaba em forma de amores perfeitos queimados pela geada.
Desconheço se é ou não legítimo o uso de dinheiro público, e até convidar outros, para visitar o seu líder religioso predileto. E fico desde já muito contente que ninguém do grupo seja xintoísta. O problema é que eu coloquei umas passagens do livro que o legitima, que tem Serpentes que falam, água que se transforma em vinho e homens que andam sobre as águas, no novo “Poligrafo” e o resultado foi: “Fake News”.
Percebo com que com todo o descrédito dos CTT e encerramento recente do balcão de Figueira de Castelo Rodrigo o envio postal não seria opção. Mas os objetivos da visita continuarão a ser um mistério insondável. A menos que em caso de uma destruição massiva, ao estilo Sodoma e Gomorra, o concelho tenha ganho imunidade em forma de carta de Monopólio, “Vocês estão livres da destruição”. Pelos menos até o Papa sentir o quanto o cobertor pica no pescoço!
Imunidade que Rui Rio não ganhou na Torre de Babel. Pois ao contrário dos franceses na Primeira Guerra Mundial, veio de lá mesmo a falar alemão. E agora com uma bomba para desarmadilhar. É que o Papa, no mesmo dia da entrega do cobertor, classificou a coscuvilhice como terrorismo. E nunca como antes se coscuvilhou tanto sobre a possibilidade da candidatura ao Parlamento Europeu por parte do seu presidente de Câmara mais próximo. Não há coincidências.
A visita poderia também ter servido para revelar o terceiro segredo das Europeias, a canonização do vereador da oposição ou ainda para finalmente revelar o(a) santo(a) padroeira da Guarda para que finalmente possam ser realizadas as festas da cidade. Como se fosse necessário um santo, num concelho onde todo o pretexto é bom para levantar uma tenda.
Como de milagres já estamos bem servidos, com as águas coloridas do Noéme, a festa da espuma do “sunset” da Pocariça, locomotivas estacionadas em rotundas e novo milagre de Tancos, podíamos aproveitar para pedir coisas insignificantes, como duração extra para a fábrica da DURA, o reforço ou constituição de novos “clusters” ou a reorganização de oferta de ensino superior. Mas já diz o ditado: “Com Papas e Mantas, se enganam as antas…”.

Sobre o autor

Pedro Narciso

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