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Mysteria: fantasia e terror tornados realidade na Vila do Carvalho

Escrito por Jornal O Interior

A fantasia mitológica regressou à Vila do Carvalho. Durante três dias decorreu nas ruas desta freguesia da Covilhã a terceira edição da “Mysteria”, feira bienal “encantada” que bebe inspiração nos mitos e estórias da vila serrana.

A mística do “Mercado Encantado” invadiu as ruas da Vila do Carvalho, entre sexta-feira e domingo, através de tendas de artesanato, recriações, produtos gastronómicos, casas assombradas e bancas temáticas, além de performances artísticas e espetáculos musicais. A “Mysteria” foca-se em figuras fantásticas e mitológicas, estando também ligada a elementos de terror, que faziam parte das crenças e medos dos antepassados da localidade.
Da rua principal até à zona da ribeira foram montados três palcos e houve 12 casas temáticas, nomeadamente “O Eremita”, a “Casa do Terror” e o “Bar 666”. Pedro Leitão, presidente da Junta da União de Freguesias de Cantar Galo e Vila do Carvalho, foi o “pai” deste evento, que já é oficialmente uma associação organizada. «A ideia nasceu em 2013, num café da freguesia. Estava a conversar com amigos e achei que era boa ideia organizar um evento ligado à mística da aldeia», recorda o autarca. O responsável acrescenta que «as estórias fantasiosas criavam-se, pois as pessoas deslocavam-se de noite para as fábricas da Covilhã, por caminhos de floresta sem iluminação, e era fácil ouvirem sons e verem sombras estranhas que as assustavam».
A “Mysteria – Mercado Encantado” atrai participantes de vários pontos do país, motivados pela temática. É o caso de Vera Martins, taróloga natural de Azeitão, que esteve na Vila do Carvalho pela primeira vez. Na sua banca fez leituras de oráculos de conchas, criados pela própria. «O tema do evento foi o que me trouxe aqui. Já sigo a feira há algum tempo, mas ainda não tinha tido oportunidade de a presenciar, até este ano», declara a participante que enverga um traje de «bruxa marinha» criado por si mesma. Apesar da fama, o foco desta feira continua a ser a população local. Márcia Poeta, natural de Cantar Galo, encarna pela segunda vez a personagem de “Mysteria”, imagem central do evento. «A minha figura representa o poder, a bondade, mas também a força», explica a jovem, que destaca o facto da «grande aposta» do Mercado Encantado ser «a prata da casa, as pessoas da freguesia que trabalham para que isto aconteça».

A arte levada ao pormenor

As personagens que deambulam pelas ruas da vila são criadas propositadamente para o evento. Gabriel AV é o homem por detrás da materialização deste imaginário encantado. O artesão, pintor e artista plástico idealiza as personagens que contam a história da “Mysteria” a cada edição. É ele que desenha e fabrica os trajes envergados pelos figurantes, além de intervir ainda na conceção das casas do terror, desenvolver murais e auxiliar todas as vertentes artísticas do festival. Excluindo o tempo que leva a pensar e conceber cada figura, Gabriel AV estima que, para executar um traje, que tem como base o couro, demora «cerca de duas semanas, durante as quais trabalho todos os dias até à exaustão». A característica mais importante do seu trabalho, segundo relata, é a transformação que provoca nos figurantes: «Quando concebo um herói, quem veste esse traje acaba por sentir a responsabilidade da bravura da personagem», sublinha o artesão residente na Vila do Carvalho.
O criador sublinha também a importância do trabalho artístico, que afirma ser o grande foco da “Mysteria”. «Cada pessoa que vier, gostar e levar consigo esse prazer que sentiu aqui, está a expandir não só aquilo que é o meu trabalho, mas também a arte produzida a partir do interior», considera Gabriel AV. Satisfeito com mais uma edição, o presidente da Junta adianta que o objetivo é criar futuramente a “Aldeia Mysteria” na Vila do Carvalho. Ali haverá «elementos da feira expostos de forma permanente, ao fim de semana e num grau menor, de forma a que seja possível aos turistas experienciarem tudo isto que criámos durante os dias que aqui ficassem alojados», declara Pedro Leitão, que assegura «a “Mysteria” é já uma marca que queremos fazer perdurar no tempo».

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Jornal O Interior

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