Um porto seco para a Guarda

Escrito por Acácio Pereira

«Não cruzarás o mesmo rio duas vezes, pois outras são as águas que correm nele», disse Heráclito de Éfeso. Não se tem a mesma oportunidade duas vezes. «Tudo flui», acrescentou ele.
A publicação, na semana passada, no “Diário da República” do Decreto-Lei que estabelece o conceito legal de Porto Seco – definindo as regras, os procedimentos e a desmaterialização necessários para a sua implementação – é uma oportunidade para a Guarda se afirmar como centro logístico que já é.
Os portos secos são elementos fulcrais nas redes logísticas, atuando como nós interiores para a concentração de mercadorias, depósitos de contentores vazios e outros serviços logísticos. Permitem por isso a concentração dos volumes necessários para ligações intermodais frequentes diretas com portos e outros terminais intermodais, nomeadamente rodoviários e ferroviários.
Ora, a região da Guarda reúne ótimas condições para a localização de uma grande estrutura deste tipo: situa-se na confluência de dois canais rodoviários estruturantes, a A23 e a A25, e na concordância de duas linhas ferroviárias – a Linha da Beira Alta e a Linha da Beira Baixa, cuja eletrificação está em curso. A Guarda tem, por estas vias, uma ligação privilegiada aos portos de Aveiro, de Leixões e de Lisboa.
O transporte por ferrovia é fundamental para a implementação dos portos secos. Como a beneficiação da Linha da Beira Baixa pode libertar canais horários ferroviários entre Coimbra e Entroncamento na sobrecarregada Linha do Norte, essa será mais uma razão a favorecer a localização de uma infraestrutura deste tipo na Beira Alta. Outra razão é a proximidade de Espanha e da sua rede ferroviária.
O potencial de um porto seco é facilitar as transferências de mercadorias entre armazéns de depósito temporário, facilitar e simplificar o processo aduaneiro e servir de elo de agregação com os portos marítimos, dinamizando as empresas e a economia das regiões onde se instalam. Permitem também uma mais fácil exportação dos bens produzidos no seu território, com redução de custos e acesso facilitado.
Por tudo isto, a afirmação da Guarda como centro logístico é uma oportunidade de viragem para a região. Sobretudo os empresários, mas também a Câmara Municipal da Guarda – agora com novo presidente, Carlos Chaves Monteiro – e a Comunidade Intermunicipal, têm à sua disposição um poderoso instrumento para atrair investimento, criar emprego e fixar atividade económica e riqueza na região.
As oportunidades só surgem uma vez. Se não a agarrarem, outros o farão.

* Dirigente sindical

Sobre o autor

Acácio Pereira

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