Nunca joguei Fortnite

Como os leitores bem sabem, o non sequitur é um recurso literário – há também uma falácia filosófica com o mesmo nome, mas agora o tempo já está a melhorar. No entanto, nestes tempos de pós modernos (com e sem hífen) torna-se necessário distinguir os verdadeiros non sequitur dos falsos.
Um exemplo real de non sequitur pode ser assim:
Criança – Pai, o índice Dow Jones voltou a descer.
Adulto – Esta sopa está fria.
Já um falso poderá ter esta forma:
Amigo – O Danilo Gentili foi condenado a seis anos de prisão por fazer piadas com uma deputada.
Eu – Esta semana não estou com grande inspiração para escrever os Ornitorrincos.
Embora pareça um non sequitur, na minha mente esta situação é um non non sequitur. No fundo, é um verdadeiro sequitur. Porque segue a lógica do ditado popular “quem tem cu, tem medo”. Que é um ditado popular bem redutor. Eu não tenho apenas medo por causa de ter um rabo. Mantendo a prosa no estilo gingão do bom povo, o meu receio não é apenas apanhar vergastadas nas nalgas. Também temo levar sopapos nas trombas, traulitadas nos cornos, um enxerto no lombo, porrada de criar bicho, e outras sevícias nas quais o meu corpo não está interessado.
Se a moda pega por cá e fazer piadas com políticos der direito a cadeia – ou a ser defendido por esse amante da liberdade que é Jair Bolsonaro (amante no sentido em que a visita uma vez por outra, quando tem vontade de dar umas cambalhotas) – contem comigo para continuar neste espaço a escrever com toda a minha energia sobre arroz de cabidela, hortênsias, ou livros de estrangeiros mortos. E nem sequer será para os criticar.

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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