Coesão territorial ou gerir o declínio

Na passada segunda-feira (9 de setembro), em artigo de opinião no jornal “Público”, a presidente da CCDRC defendeu que «há territórios onde não se recuperará população» e que «é urgente abandonar a visão redistributiva da política de coesão, assumindo-se que não basta colocar recursos nas regiões menos desenvolvidas». Ana Abrunhosa escreveu mesmo que «há que assumir que não é possível ter a tónica no crescimento em todos os territórios» e assumir que em porções do nosso país «coesão territorial significa gerir o declínio» e isto significa que temos de assumir que em partes do território não será possível recuperar população ou atividade económica. Ou seja, temos de assumir, sem pruridos, que por muitas políticas de coesão que se possam implementar não será possível reverter o abandono e o despovoamento de muitos dos nossos territórios, nem será possível corrigir as assimetrias de que padecemos.
Este discurso, pragmático e assertivo, não foi bem aceite por muitas pessoas que, estranhamente, preferem ouvir o habitual cantar da cigarra e consideram inaceitável que um membro do Governo (a presidência das comissões de coordenação são, efetivamente, um serviço de descentrado de governação regional) diga que para salvar a floresta temos de deixar morrer muitas árvores.
Nas redes sociais foram muitos os que de imediato, e bem, polemizaram sobre o assunto. Que consideraram as palavras «gerir o declínio» dos territórios como a defesa do aumento de assimetrias e matar o interior. Compreende-se e aplaude-se a apreensão de todos. Não podemos tolerar que os governos abandonem o interior. Porém, defender a coesão territorial é ter a noção exata do ponto onde estamos: um despovoamento contínuo e um atraso e pobreza impossível de reverter no seu todo. Por muito que nos custe, e custa, temos de assumir que grande parte dos nossos territórios não poderão recuperar a população ou a atividade económica – e sem ela não poderá haver emprego, geração de riqueza e capacidade de fixação de pessoas.
A maioria dos discursos político-partidários de defesa da coesão territorial enfermam de várias mentiras e, por isso, levamos anos a ouvir um discurso hipócrita e a aplaudir promessas impossíveis de cumprir. A maioria dos políticos são preguiçosos no pensamento e obtusos na narrativa. O Portugal profundo, pobre e ostracizado pertence ao passado, por isso temos de ter a noção que não é possível salvar todas as aldeias e vilas do interior. Não é possível que todos os lugares do interior recebam apoios ou investimentos salvíficos. Temos de escolher caminhos e definir medidas que permitam de forma razoável o desenvolvimento de algumas vilas e cidades do interior, mesmo que alguns territórios fiquem abandonados – ou é isso, ou todo o interior será uma reserva desertificada, sem gente, sem vida, desprotegida. É triste ver definhar aldeias e vilas da região, mas muito mais triste é ver que as nossas vilas e cidades não conseguem oferecer oportunidades aos seus filhos porque se consumiram recursos de forma errada e sem sustentabilidade ao longo de anos. As políticas de coesão têm de ser cada vez mais definidas criteriosamente, até porque, como todos sabemos, o investimento público per si não gera sustentabilidade; a política de fazer «piscina no meu concelho porque o concelho vizinho também tem» não pode repetir-se. Consumir recursos para reverter um abandono com séculos sem medir a sua sustentabilidade, não pode ser a opção. Abílio Curto ainda hoje é aplaudido como o presidente das aldeias, pelas casas do povo e salões de convívio que fez por todo o concelho da Guarda. E em todas as aldeias sempre houve bailaricos… não foi isso que lhes deu futuro!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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