Bilhete Postal de Diogo Cabrita: Perdoar

Escrito por Diogo Cabrita

Perdoa não poder. Perdoa não chegar a tempo. Perdoa-me que não vou conseguir cumprir.
Perdoa porque realmente não dava, ou não tinha, ou não era capaz. Vem isto de um erro de avaliação?
Fui eu que me excedi na convicção de que podia? Fui eu que quis ser mais do que sou?
Envergonha-me dizer que não? Foi uma vaidade aceitar o desafio?
A vida está cheia desta armadilha entre o que gostamos e o que podemos.
Enche-se depois da frustração entre o que os outros percebem e testemunham e o que fizemos.
No desporto de alta competição quando se corre para a medalha e não dá.
No enterro do tio a que queríamos ter ido e não deu. Pior é prometer o que não temos.
Pior é contratar o que se não vai cumprir. Temos as obras que pedimos ou as que nos oferecem.
Garantir que sim é tramado para qualquer um que falhe depois. Eu ligo-lhe – silêncio.
Eu prometo que vou – lugares vazios. Eu faço isso por mil e a conta são mil e muitos mais.
Perdoar é um processo de transferência, colocando a avaliação num patamar elevado.
Perdoar é a medição da execução da performance, e um não é negativo.
Imperdoável são os perdoa-me que se repetem.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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