Opinião de Francisco Manso: O Condado da Guarda – Razão da Mercê

Escrito por Francisco Manso

Do casamento houve sete filhas e um filho. Será a sua filha, Maria Luísa de Oliveira e Almeida Calheiros e Menezes, a tornar-se a 3ª condessa da Guarda.

O título de conde da Guarda foi concedido por D. Luís I, por decreto de 23 de junho de 1869, referendado por D. António Alves Martins, ministro e secretário de Estado dos Negócios do Reino, e bispo de Viseu, a Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Meneses.
Mas, qual a razão desta mercê? E porquê o topónimo Guarda?
Vejamos o que diz o decreto de atribuição:
«Atendendo às circunstâncias e distinta qualidade de Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Meneses, Moço Fidalgo com exercício na Minha Real Casa e Alcaide Mor de Seia; e Querendo Conferir-lhe um público testemunho da consideração e apreço em que Tenho a sua pessoa como representante daqueles de seus maiores em cujas casas sucedeu, perpetuando assim a memória dos valiosos serviços que estes prestaram ao Estado: Hei por bem Fazer-lhe Mercê de o elevar à Grandeza destes Reinos com o Título de conde da Guarda em sua vida».
Ou seja:
1º São tidas em conta as suas qualidades pessoais, embora não saibamos quais;
2º Não era representante nem sucessor da parte paterna, pois o pai não era primogénito;
3º Restava a família do lado materno, natural da Guarda;
3º Concluindo, foi esta a razão da escolha do topónimo.
E daí que será a família do lado materno, a importante família dos Oliveiras, que vamos evidenciar e analisar com mais pormenor.

O Iº Conde

Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Menezes nasceu em Lisboa, a 22.11.1812. Filho de Francisco Lopes de Calheiros e Meneses, (Calheiros, Ponte de Lima), fidalgo cavaleiro da Casa Real, coronel do Regimento de Milícias da Guarda, e de Maria Emília de Oliveira de Almeida Coelho e Alvim, nascida em S. Vicente, Guarda, a 15.10.1779. Maria Luísa foi herdeira da Casa de seu pai, que incluía o Morgado de Antas de Penalva, a quinta da Alameda e muitas outras propriedades, nomeadamente em Trancoso. Casaram na Quinta da Alameda, Porco, hoje Aldeia Viçosa.
Depois de enviuvar voltou a casar, agora com João Lopes de Calheiros e Meneses, seu cunhado, em Lisboa. Seria deste casamento, sem geração, com o tio e padrasto do 1º conde, que teria resultado o vasto património familiar na região de Lisboa.
Do 1º casamento de Maria Emília de Oliveira de Almeida Coelho e Alvim houve, entre outros, Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Menezes, homónimo do pai, que será o Iº conde da Guarda.
De D. Luís de Oliveira pouco se sabe. Nunca casou, mas teve seis filhos de Amália Rossini, uma cantora lírica no Teatro de São Carlos.
Teve mais um filho, conhecido, com Miranda, que, talvez, fosse filha do general Miranda. Seria, talvez, Luís Oliveira que, em 1895, tinha opulenta ganadaria, forneceu touros e foi espada na praça Vista Alegre, em Cascais.
D. Luís faleceu em Lisboa, em novembro de 1888.

2º Conde da Guarda

Luís de Oliveira de Almeida Calheiros e Menezes nasceu em Lisboa, a 20.11.1846. Filho varão legitimado de D. Luís e Amália Rossini, foi 2º Conde da Guarda, por despacho de concessão de 22 de agosto de 1892, quatro anos após a morte do pai.

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2º Conde da Guarda. Diário Illustrado,31.08.1902

Casou com Maria das Dores Lobo de Almeida de Melo e Castro, sua prima. Foi «um dos mais ilustrados agricultores e opulentos lavradores de Lisboa», segundo o “Diário Ilustrado”, de 31 de agosto de 1902. Homem de visão, procurava uma agricultura moderna e rentável. Pertenceu a vários organismos, geralmente ligados à agricultura, à Câmara de Lisboa, de que foi várias vezes vereador, e à tauromaquia, de que foi um grande apaixonado, sendo um dos maiores impulsionadores da construção da Praça do Campo Pequeno. Era um “gentleman” e um benemérito.
Faleceu a 01.02.1917, em Lisboa, quando se preparava para assistir a uma missa por alma de D. Carlos, seu grande amigo. Ao seu funeral assistiram as famílias mais notáveis de Portugal, mas também as mais humildes, pois «descia à sepultura regada pelas lágrimas dos seus protegidos».
Do casamento houve sete filhas e um filho. Será a sua filha, Maria Luísa de Oliveira e Almeida Calheiros e Menezes, a tornar-se a 3ª condessa da Guarda.

O bisavô

Entre os antepassados do Iº conde conta-se Duarte de Almeida, “o decepado», célebre porque, sendo responsável pelo estandarte real, o defendeu com braços e dentes já depois de lhe terem sido cortadas as mãos, na Batalha de Toro.
Um dos bisavôs maternos do Iº conde foi Simão de Oliveira da Costa Osório, nascido na freguesia de São Vicente, Guarda, a 13.02.1717. Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, capitão mor da Guarda, senhor do Morgado das Antas de Penalva. Foi fundador de uma importante fábrica de seda em Aldeia Viçosa, que veio dar origem a outras duas, no Porto da Carne e na Guarda.

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Largo dos Condes da Guarda.

Era irmão de D. Jerónimo Rogado Carvalhal, bispo de Portalegre, e bispo da Guarda.
Casou com Maria Joaquina Inês de Melo Vilhena de Carvalho, natural de Coimbra.
Tiveram, entre outros, a Luís de Oliveira da Costa de Oliveira Osório, avô do Iº conde.

O avô

Luís de Oliveira da Costa de Oliveira Osório nasceu na freguesia de S. Vicente, Guarda, a 29.06.1753
Fidalgo cavaleiro da Casa Real, e alcaide-mor de Seia, foi Mestre de Campo do Terço de Auxiliares da Guarda em 1776, e Governador Militar do Porto.
Casou na Quinta da Alameda, Porco (Aldeia Viçosa), com Ana Máxima de Almeida Coelho Brandão, natural de Vila Cova do Alva, Arganil, filha do Capitão Mor de Celorico da Beira.
Tiveram, entre outros, Maria Emília de Oliveira de Almeida Coelho e Alvim. Será mãe do Iº conde. Faleceu, assassinado, no Porto a 22.03.1809.

O assassinato de Luís de Oliveira

Foi enquanto Governador Militar do Porto que ocorreu um episódio triste e de trágicas consequências.
Em 1808, o brigadeiro Luís de Oliveira era Governador Militar do Porto quando Junot, à frente das forças francesas, aliadas com as espanholas, invadiram Portugal e ocuparam o Porto. Entretanto, ocorre uma revolta na Galiza e para a suster Junot envia o espanhol Belestá, comandante das forças invasoras no Porto, e nomeia em sua substituição o general Quesnel. Mas antes de sair, manda prender Quesnel e outros oficiais franceses. Quase de imediato, o povo do Porto subleva-se e liberta os prisioneiros. Luís de Oliveira apoia inicialmente a restauração da dinastia de Bragança, mas achando a revolta prematura e temendo o seu insucesso e as represálias, mandou libertar os prisioneiros. Mal compreendido nesta medida, assim que os exércitos napoleónicos saíram da cidade foi acusado de colaboracionismo com os franceses. Foi preso, e depois, no meio da anarquia, «hum tumulto forçou o Carcereiro das Cadêas da Relação a entregar-lhe o Brigadeiro Luiz de Oliveira da Costa Almeida Ozorio, e lançando mão delle, o conduzirão ao sitio da Cordoaria onde estava o cadáver do Tenente Coronel João da Cunha Portocarrero, morto no dia anterior, ao qual o amarrarão, e fazendo-lhe dar voltas ao redor das Cadêas, depois de o ter cruelmente martyrizado com inumeráveis feridas, lhe derão finalmente a morte, entregando depois os cadáveres aos rapazes, que os arrastarão pelas ruas, e lugares mais públicos, e os lançarão na noite desse dia ao rio». Posteriormente, foi reconhecida a sua inocência e reabilitada a sua memória.

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Igreja de São Vicente, brasão do bispo D. Jerónimo, da família dos Oliveiras. Oficina de História da Guarda.

* Investigador da história local e regional

Referências:
Anuário da Nobreza de Portugal
BORREGO, Nuno Gonçalo Pereira, Trancosanos: História e Genealogia
CASTRO, José Osório da Gama e, Diocese e districto da Guarda, Porto, Typographia Universal, 1902
MATOS, Lourenço Correia de, Os condes da Guarda, 2019
Nobreza de Portugal e do Brasil, direcção de Afonso Eduardo Martins Zúquete
OLIVEIRA, Carlos de, Apontamentos para a Monografia da Guarda, 1940

Sobre o autor

Francisco Manso

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