P – Qual é o objetivo da tese “Reinventar a Rádio de Proximidade”?
R – Com esta dissertação de mestrado, que incidiu sobre as duas rádios locais mais antigas do país sem mudança de designação – a Rádio Altitude (RA) na Guarda, e a Rádio Clube Asas do Atlântico (RCAA), na ilha de Santa Maria, nos Açores – pretendeu-se analisar a situação atual e indicar “pistas” para que ambas possam perdurar no tempo e continuarem a ser uma referência nos territórios onde se situam, uma no interior do país (RA) e outra em território insular (RCAA).
P – E quais são as conclusões?
R – As conclusões deste estudo são várias. De forma sintética, apontamos as seguintes: a rádio tem futuro (desde que se adapte aos desafios atuais e às novas ferramentas tecnológicas); as rádios locais devem renovar os caminhos da obtenção de receitas, manutenção e captação de novos públicos (tirando partido da emissão online); devem reavaliar o seu posicionamento e funcionamento perante as necessidades dos novos públicos; devem apostar na proximidade com o meio e manter uma “ligação direta” e permanente com o ouvinte; o Estado deve estar atento às pequenas emissoras de radiodifusão e aumentar os apoios financeiros (por exemplo ajudar na aquisição de equipamentos e suportar os custos com a elaboração de estudos de audiência) e a Inteligência Artificial deve ser colocada ao serviço das rádios locais. Ao nível das propostas, uma vez que a RA já se define como a rádio local mais antiga do país, sugerimos que a RCAA adote a designação de segunda rádio local mais antiga de Portugal ou de rádio local mais antiga da Região Autónoma dos Açores sem alteração de nome. Também sugerimos que as duas rádios estudadas produzam programas comuns, com transmissão em ambas as emissoras, com o objetivo de criar pontes e de contribuir para o enriquecimento cultural dos ouvintes, e que o Instituto Politécnico da Guarda e a Universidade dos Açores apoiem a RA e RCAA, respetivamente, ao nível da gestão, marketing, comunicação, cibersegurança e informática. Neste ponto, salientamos a criação de uma ‘app’ que divulgue as duas estações radiofónicas e a produção de programas, pelos alunos de alguns cursos superiores, dirigidos ao público infantil e sénior.
P – A rádio tem futuro?
R – Claro que sim, sem qualquer sombra de dúvida. A rádio é presente, mas também é futuro. A rádio não morreu, antes pelo contrário, está bem viva, como se verificou no recente apagão do dia 28 de abril. Agora, é preciso “animar” as rádios locais e, em alguns casos, voltar a estabelecer a estreita ligação que estas sempre tiveram com a comunidade. A proximidade com as pessoas é fundamental. Uma rádio fechada entre quatro paredes dificilmente terá futuro, mas se souber envolver diariamente o ouvinte, não temos dúvida que ultrapassará todas as dificuldades.
P – O que é isso da rádio de proximidade num tempo dominado pelas redes sociais, em que é possível partilhar som, imagem e texto num estalar de dedos?
R – No fundo, é uma rádio atenta ao pulsar do dia-a-dia da comunidade, que partilha as alegrias e as tristezas de quem vive no território. É uma rádio próxima do ouvinte (nos mais diversos aspetos) que pode falar de muitas coisas, mas, que, por exemplo, também não esquece o buraco numa rua que preocupa apenas dois ou três moradores. É também uma rádio com quem os ouvintes se identificam e que presta serviço público.
P – Começou na Rádio Altitude há quase 40 anos, o que mudou entretanto para melhor e para pior?
R – Tive o privilégio de me fazer jornalista profissional na RA em 1990, numa época em que fazer rádio era difícil, pois não existiam as ferramentas tecnológicas da atualidade e se aprendia com os outros. Na altura, a rádio, um meio de comunicação social tão importante para o garante da democracia, era feita com muita emoção, paixão e entrega… De então para cá muito mudou. A tecnologia facilitou a produção, mas a rádio “fechou-se”, passou a ter menos pessoas, a estar menos presente no dia-a-dia e a deixar assuntos (ao nível da informação) para o dia seguinte (ou seguintes), como se a atualidade não fosse um critério importante. Ao nível da informação, por exemplo, praticamente não se fazem diretos para os noticiários a partir do exterior. Na programação, predomina a música “a metro”, são poucos os programas realizados fora dos estúdios e quase não existe interação com o ouvinte, pois, aparentemente, valorizam-se mais os “likes” nas redes sociais do que a palavra.
Perfil
António Sá Rodrigues
Jornalista e autor da tese de mestrado “Reinventar a Rádio de Proximidade”
Idade: 57 anos
Naturalidade: Aldeia Nova – Ramela, Guarda
Profissão: Jornalista, atualmente delegado da Agência Lusa na Região Autónoma dos Açores
Currículo (resumido): Mestre em Marketing e Comunicação; Licenciado em Comunicação e Relações Públicas; foi jornalista na Rádio Altitude e Rádio F, nos jornais regionais “Nova Guarda” e “A Guarda” e correspondente da Rádio Renascença e do “Correio da Manhã” no distrito da Guarda
Livro preferido: A Bíblia
Filme preferido: “A Lista de Schindler”
Hobbies: Ler, escrever poesia, investigação histórica, passear, ouvir rádio …