A completar 31 anos de existência em 2005, o Teatro das Beiras é já uma referência no panorama regional e nacional. Marcou a diferença ao tornar-se a primeira companhia profissional na Beira Interior há dez anos. «Foi um desbravar de caminhos», recorda Fernando Sena, director da companhia, ao lembrar as dificuldades em representar numa região que sofria, «e continua a sofrer», da falta de infraestruturas adequadas aos espectáculos que produzem.
«A única sala de teatro que existia, e com deficiências, era o Teatro-Cine da Covilhã. Trabalhámos ali muitos anos, mas nunca nas condições que uma companhia profissional precisa para poder desenvolver o seu trabalho», recorda. Quando foi fundado em 1974, sob a designação de GICC – Grupo de Intervenção Cultural da Covilhã, o objectivo de Fernando Sena e dos restantes elementos era produzir espectáculos teatrais com regularidade. Apesar de muita coisa ter mudado, ainda hoje a companhia tem dificuldades em representar nalguns concelhos da região «por falta de espaços ou devido a alguma insensibilidade cultural», sustenta. «O grande desafio do futuro é que essa regularidade comece a fazer parte do circuito regional do Teatro das Beiras», espera Fernando Sena.
A divulgação dos clássicos da história da dramaturgia, como Gil Vicente, Goldoni, Brecht, Moliére ou Pirandelo, entre outros, continua a ser a principal linha de trabalho da companhia, que dá ainda destaque a autores contemporâneos portugueses e internacionais. O que não mudou é a falta de apoios na região, que continua a ser uma das suas «grandes limitações». Mas para este ano, o Teatro das Beiras conseguiu um apoio de 280 mil euros do Ministério da Cultura e do Instituto das Artes para produzir quatro espectáculos, o tradicional Festival de Teatro da Covilhã e outras actividades, como exposições e peças de outros grupos, na sua sala estúdio. «Não é fácil desenvolver todo o programa com o apoio que recebemos do ministério», lamenta Fernando Sena, para quem a sobrevivência do grupo depende em grande parte da venda dos espectáculos. «A Lei do Mecenato não funciona, os apoios das empresas são quase insignificantes e as receitas das bilheteiras não são expressivas», completa. Apesar da realidade cultural ter melhorado nos últimos anos, o responsável considera haver ainda «graves carências» na região: «Acho que tem havido uma programação coerente na Guarda, que depois não é extensível ao resto da região. Temos é que pensar a cultura como um bem essencial e permitir que as companhias possam mostrar o seu trabalho», salienta.
Depois do “Procurador de Amigos”, o grupo prepara-se para estrear a 1 de Abril o espectáculo, “Perdida nos Apalaches”, de José Sanchis Sinisterra, uma peça de Gil Vicente para Junho e um outro espectáculo para Outubro.
Teatro das Beiras comemora Dia Mundial do Teatro nos Açores
Pelo segundo ano consecutivo, o Teatro das Beiras vai comemorar domingo o Dia Mundial do Teatro na Horta (Ilha do Faial, Açores) com o espectáculo “O Procurador de Amigos”, a partir de um conto de Jorge Cabral dos Santos, estreado em Fevereiro. No entanto, as comemorações vão estender-se à Covilhã, a 1 de Abril, com a estreia da nova produção. “Perdida nos Apalaches”, do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, um dos mais consagrados da actualidade, conta as aventuras de um segundo vice-secretário de um clube de Divulgação Cultural com pretensões de chegar a presidente. Para tal, utiliza todo o tipo de argumentos mesmo que eticamente duvidosos. A acção decorre no palco do salão de festas de uma colectividade numa pequena cidade de província, mas ao mesmo tempo nos Montes Apalaches ou num hotel em Praga… E tudo isto durante a apresentação de uma conferência científica sobre a “relatividade do tempo e espaço”. O público é convidado a observar três personagens perdidos, retratando de forma sarcástica a debilidade dos “sistemas” num mundo em mudança. A encenação é de Gil Salgueiro Nave e a interpretação de Miguel Telmo, Eva Fernandes e António Saraiva.
Liliana Correia


