Continuam a ser muitos os que optam por sair de Portugal em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Só em 2015 saíram deste jardim à beira mar plantado110 mil cidadãos, número que só encontra paralelo com a tendência das décadas de 1960 e 1970. No mesmo ano, e segundo o relatório do Observatório da Emigração, havia 2,3 milhões de portugueses a residir fora do país, o que faz de Portugal o segundo país europeu com maior taxa de emigrantes em proporção com a população residente: 22 por cento. À frente só Malta, com 24,3 por cento e em terceiro lugar surge a Croácia, com 20,6 por cento.
Sendo a taxa de desemprego entre os jovens portugueses também umas das mais altas da Europa, essa é uma das razões apontadas para que estes continuem a ser os que mais têm emigrado nos últimos anos. Nesta edição fomos procurar alguns rostos que deixaram a Beira Interior para trás e fazem hoje parte da taxa de emigração. Foi em junho de 2012 que Vera Ribas, agora com 27 anos, fez as malas e rumou a Bruxelas (Bélgica). À sua espera estava já o namorado, que tinha viajado dois meses antes. Ambos naturais da Covilhã, escolheram a Bélgica porque já lá tinham família, mas o que os levou a sair «foi a falta de trabalho em Portugal e queríamos começar uma vida em conjunto», recorda Vera. Na altura, a jovem trabalhava num espaço na restauração do Serra Shopping e actualmente trabalha num centro de limpezas, mas as condições que lhe são oferecidas não se comparam. «Aqui temos mais ajudas de saúde e durante o mês não temos de andar a contar os trocos, como aí», refere, embora admita que com esta opção também aumentaram as despesas com a casa e impostos, que «são muito caros».
A decisão de emigrarem permitiu-lhes algum desafogo económico no dia-a-dia, mas existem também desvantagens, «sobretudo a distância da família». Vera Ribas casou entretanto e foi mãe de um menino. «Custa que cresça longe dos avós», sublinha a covilhanense. Hoje em dia as redes sociais ajudam a encurtar as distâncias e o regresso à terra no verão é sempre certo e, quando possível, no Natal também. Após quase cinco anos a viver em Bruxelas, Vera já se adaptou à nova cidade, mas não esconde que um dia espera voltar, «basta saber que teríamos emprego». Além disso, lembra que o dinheiro que se consegue juntar «já não é como antigamente, mas dá para poupar para ir de férias» e permite-lhes ainda chegar ao final de cada mês «mais à vontade».
João Lopes, da Covilhã para Chertsey
A história e os motivos de João Lopes não são muito diferentes. Há dois anos que Chertsey (Reino Unido) passou a ser a sua nova casa. Licenciado em Enfermagem, viu-se obrigado a emigrar «porque não tinha saídas profissionais em Portugal», acrescentando mesmo que essa era «a última opção», pois estava desempregado. Também ele não esquece Portugal, nem a “cidade neve” que o viu nascer e crescer, onde tenta regressar a cada tês meses. A saudade, palavra tão portuguesa, reflecte-se nas pequenas coisas, «até no tempo, aqui está sempre nublado», mas é a distância da família «a maior desvantagem». Um dia João espera regressar, mas prefere não apontar previsões. «A possibilidade de ganhar mais dinheiro, de progredir na carreira, bem como desenvolver outra língua, são a parte boa de estar aqui», admite João Lopes. São esses os argumentos a que se agarra para se manter mais uns anos.
Do Reino Unido para a França a história repete-se. Este é aliás o país do mundo onde vive um maior número de emigrantes nascidos em Portugal, mais de 600 mil em 2013. Nicolas Reis, de 25 anos, é um deles, trocou a Mêda por Mitry Mory, nos arredores de Paris, onde trabalha como comercial de uma empresa de materiais de construção. Formou-se em Ciências da Comunicação, mas em Portugal trabalhava para um jardineiro. «Fazia de tudo, desde trabalho de escritório a venda ao público e até ia cortar relva quando havia muito trabalho», recorda. A parte monetária até nem foi o que mais o motivou a sair do país: «Tinha um salário razoável, tendo em conta que estava em casa dos meus pais, por isso não vim para a França por dinheiro porque hoje estar aqui ou em Portugal também é difícil», sublinha, adiantando que a emigração surgiu porque «precisava de mais responsabilidade, tinha objectivos maiores» e trabalhar na sua área de formação em Portugal «não era fácil».
Quando decidiu rumar até à capital francesa foi com uma proposta de trabalho de uma empresa portuguesa que se queria desenvolver no mercado francês. Um ano depois mudou para o seu trabalho atual. Voltar a Portugal não está exactamente nas intenções do jovem medense, que espera investir por cá «um dia mais tarde, mas só o tempo dirá». A crise e a falta de emprego não tem necessariamente que estar relacionado com os números da emigração, segundo a presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes, em declarações ao jornal “Público”, também tem a ver com «o nosso passado, a nossa história demográfica, mesmo quando a emigração baixou, os portugueses nunca deixaram de emigrar».
Ana Eugénia Inácio


