Sociedade

Novo presidente do IPG eleito na quarta-feira

Escrito por Luís Martins

Gonçalo Poeta Fernandes, Joaquim Brigas e Pedro Rodrigues vão a votos na quarta-feira para a presidência do Instituto Politécnico da Guarda. A eleição do sucessor de Constantino Rei é da responsabilidade dos 33 elementos do Conselho Geral.
Gonçalo Poeta Fernandes tem 49 anos e é professor coordenador do IPG, onde trabalha há 22 anos, tendo lecionado nas quatro escolas do Politécnico. É vice-presidente da instituição desde 2010. Natural do Tortosendo (Covilhã), tem formação na área de Geografia e Planeamento, com especialidade nas questões estratégicas e do turismo. É investigador do CITUR, da Universidade Nova de Lisboa e da Unidade de Desenvolvimento do Interior. O desporto, a leitura e a música são os seus hobbies.
Com 49 anos, Pedro Rodrigues está na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) há 25 anos. Natural da Guarda, é licenciado em Bioquímica, mestre em Qualidade e outorado em Química. É coordenador do Laboratório de Monitorização e Investigação Ambiental (LABMIA), criado em 1994. Atualmente, um dos seus hobbies é plantar videiras no vale do Mondego e trabalhar no campo. Define-se como «um resiliente».
Joaquim Brigas é docente da Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto (ESECD). Licenciado em Geografia, mestre em Geografia Física, doutor em Publicidade e Relações Públicas e especialista universitário em Publicidade, Marketing e Consumo, tem 58 anos e foi diretor da antiga Escola Superior de Educação (ESSE) entre 1998 e 2009. Está no IPG desde outubro de 1988 e possui diploma de Estudos Avançados em Jornalismo pela Universidade Pontifícia de Salamanca. Concorre pela quarta vez à presidência do Politécnico, nunca tendo ganho. Passear de bicicleta e de mota pelas paisagens da região, bem como ler e praticar desporto são os seus hobbies.
O próximo presidente do IPG é eleito por maioria absoluta (17 dos 33 votos do Conselho Geral), havendo segunda volta entre os candidatos mais votados se tal não se verificar na primeira votação. Nesse caso, o vencedor será o candidato com maioria relativa. O Conselho Geral é presidido por José Alves, antigo presidente do IPG, e integra dez personalidades cooptadas na comunidade local, como o cientista Fernando Carvalho Rodrigues, D. Manuel Felício (bispo da Guarda), Marco Loureiro (ex-presidente da Associação Académica), as Câmaras da Guarda e Seia, a Unidade Local de Saúde da Guarda, a Associação Comercial da Guarda, a empresa Olano Portugal e Pega Magro (representante da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas).
Para o órgão de governo do IPG foram eleitos 17 representantes dos professores e investigadores, cinco representantes dos estudantes e um elemento do pessoal não docente.

 

«Tem faltado visão e ambição no IPG»

Joaquim Brigas

P – Por que se candidata?
R – Por sentir que há necessidade de alguém com experiência e conhecimento se candidatar. Sou professor do IPG há 30 anos, fui dez anos diretor da Escola Superior de Educação numa altura em que ainda havia autonomia administrativa e financeira. Portanto, sei como se podem gerar receitas próprias. A ESE chegou a ter cerca de 1.800 alunos graças às formações extraordinárias que fizemos e que correspondiam às necessidades da região. É uma aposta que não tem sido feita à escala que o Politécnico e a Guarda necessitam.

P – O IPG foi a instituição de ensino superior que registou a maior queda de novos alunos, com menos 22 por cento comparativamente a 2017. O Politécnico está parado e sem ideias, não tem sido atrativo. O que vai fazer para dar a volta à situação?
R – Quero tornar o IPG uma instituição da sociedade e para a sociedade, que esteja atenta aos problemas da região, das empresas, dos serviços e arranje forma de lhes proporcionar o que necessitam. Há várias empresas que precisam de técnicos em determinadas áreas e não têm. Logo, é preciso que o IPG trabalhe para dar essa formação.

P – A sua estratégia é salvar o IPG no imediato ou dar-lhe uma estratégia para o futuro?
R – Há medidas que têm que ser implementadas de imediato, pois fazer crescer o Instituto é fundamental, e há várias formas de o conseguir a médio e longo prazo. O problema é que tem faltado visão e ambição.

P – Acha então que a atual presidência do Politécnico tem tido falta de dinâmica e de ideias?
R – Os resultados falam por si. Desde que há eleições, o poder é herdado pelo vice-presidente. Também tem sido assim noutras instituições, mas recentemente nos Politécnicos de Coimbra e Viseu nenhum dos vices foi eleito. Na Guarda, dá a ideia que continuamos sempre agarrados a determinado tipo de práticas. Mas se as coisas pioram há algo que não está bem, então porquê dar-lhe continuidade? Eu proponho romper com determinado tipo de práticas, aprofundar, desenvolver e incentivar o que está a ser bem feito, porque nem tudo está mal, mas falta muito dinamismo da presidência. A estrutura não está devidamente organizada a meu ver, há muita desmotivação e quem devia motivar era sobretudo a presidência do IPG. São do conhecimento público as intervenções que vai havendo e que desmotivam mais do que motivam. Internamente não há incentivos claros para que quem trabalha tenha algum reconhecimento. Temos excelentes investigadores, mas que ficam sem vontade de se meterem noutros projetos porque, a par desse trabalho – algum de interesse para a sociedade em áreas emergentes e que devia ser apoiado – , têm uma carga letiva e burocrática que dificulta a sua tarefa.

P – Não receia que o IPG seja cada mais uma escola profissional com predomínio dos cursos técnicos superiores profissionais (TeSP)?
R – Isso seria uma visão muito pessimista e mal da Guarda se isso acontecesse. No passado, o IPG era uma referência e devemos todos trabalhar para que volte a sê-lo, nomeadamente naquele ensino de caráter mais prático, vocacionado para as empresas, que se tem perdido nalguns casos porque falta maior interação com o tecido empresarial. É preciso ouvir primeiro e ajustar o produto às necessidades da região. Ou seja, defendo uma maior interação entre a instituição e a sociedade.

P – Qual será a sua prioridade se for eleito e como a vai concretizar?
R – É trazer alunos, fazer crescer o IPG. Quando dirigi a Escola Superior de Educação consegui passar de uma situação em que o orçamento era manifestamente insuficiente, não dava para pagar ordenados, para outra em que gerámos receita com as formações e parcerias e comprámos equipamentos. Esse é um dos caminhos, pois o Politécnico tem que trabalhar também para a sua sustentabilidade financeira.

P – Não teme pelo futuro do IPG com a entrada de 300 novos alunos por ano, além dos estudantes estrangeiros?
R – É preciso trabalhar. Quantas licenciaturas foram aprovadas no mandato do professor Constantino Rei? Foram oito anos e meio e esteve mais quatro como vice-presidente. O professor Gonçalo Poeta é vice há oito anos. Nem uma licenciatura aprovaram? Ou estarei enganado?

P – Faria sentido haver novas licenciaturas?
R – Como se cresce se há necessidades de formação e as instituições de ensino superior não trabalham da forma adequada para as lecionar? É difícil. Mas no IPG há pessoas capazes de fazer esse trabalho, o que falta é alguém que coordene devidamente este processo e que promova a articulação entre escolas para que as candidaturas sejam feitas de forma diferente do que têm sido. É um trabalho que não tem nada a ver com os poderes políticos, são as instituições que têm que ter dinamismo e apresentar boas propostas, que dificilmente alguém recusará. Oliveira do Hospital tem um polo da Escola Superior de Tecnologia do Politécnico de Coimbra e nos últimos três anos aprovou três licenciaturas. Quantas tiveram Seia e a Guarda? Alguma coisa falhou… Outro aspeto fundamental é evitar a todo o custo a politização das instituições porque só resulta em prejuízo. Se for eleito presidente comprometo-me a não permitir a partidarização do Politécnico da Guarda.

P – Além do problema da interioridade, o que não tem corrido bem no IPG nestes últimos anos?
R – Não há que ter complexo algum de interioridade, temos uma excelente localização para trabalhar com os diferentes parceiros, inclusivamente com Espanha. Estarmos no interior não é problema, há outro caminho. As parcerias são fundamentais com outras instituições portuguesas, espanholas ou outras. A aposta na internacionalização é uma prioridade, ainda mais para as instituições do interior, e passa por trazer mais públicos, mas de forma gradual. Neste momento é um erro crasso dizer que temos capacidade para receber alunos do Canadá, dos Estados Unidos, da Ásia, daqui e dacolá, porque o corpo docente não está qualificado para dar aulas em inglês. Há públicos de língua portuguesa que são extremamente interessantes e atrativos, mas o Brasil é neste momento uma prioridade.

P – Como avalia os mandatos de Constantino Rei?
R – Além de maior diálogo, quero envolver todos, discutir com os órgãos próprios e convencê-los que todos, conjuntamente, temos de trabalhar para conseguirmos estas formações e estes públicos. Não pode ser apenas o presidente a ter ideias e a querer implementá-las de uma forma quase ditatorial, fazendo com que os colaboradores se desmotivem. Tem que se trabalhar com as pessoas e não contra as pessoas. Há muito descontentamento e é preciso alimentar a esperança de que o Instituto pode voltar a crescer e as pessoas serem tratadas com a dignidade que merecem.

P – Concorda com a eventual integração do IPG na UBI?
R – Refere-se às declarações do presidente ao jornal “Público”, uma notícia de que ninguém gostou porque não traduz fielmente o que é o Politécnico da Guarda, dando a ideia de que precisa de alguém que lhe dê a mãozinha para que sobreviva. Isso não é verdade. O que tem faltado é dinamismo e iniciativa. Eu não me revejo nas declarações do presidente. Além disso, temos que saber se a UBI quer integrar o IPG e o Politécnico de Castelo Branco. Tem que haver evidentemente negociação, articulação, aquilo que tem faltado há décadas. Admito que esse possa ser um caminho possível, até porque a UBI é a universidade mais próxima e com a qual já desenvolvemos algumas colaborações.

P – Acredita que o IPG pode voltar a ser um Politécnico atrativo como era há vinte anos e ter novamente mais de 4.000 alunos?
R – O Politécnico tem que implementar medidas que tornarão a instituição mais atrativa e farão com que as pessoas que fazem do IPG o que é transmitam para o exterior uma imagem positiva. Isso é fundamental, mas não está a ser feito. Com os recursos que temos era possível o IPG estar muito melhor no final destes oito anos, mas os resultados são de decréscimo, o que não é bom para a região. Foram demasiados anos parados sem trazer novas licenciaturas e isso não se compreende.

 

«A presidência do IPG está afastada de toda a instituição»

Pedro Rodrigues

P – Por que se candidata?
R – Há dois, três grandes motivos. Primeiro, trabalho no IPG há 25 anos, conheço a instituição, as suas debilidades e creio ter condições para reverter uma situação que é muito difícil e precisa de novas soluções. Tenho um conjunto de medidas que poderão ajudar a estancar a perda significativa de alunos, mas não podemos esquecer que o número de candidatos ao ensino superior tende a decrescer de ano para a ano. Temos que fazer algo mais para ser mais atrativos, embora tenhamos esta limitação de viver no interior, no términus da A23 e A25, e a população está no litoral e quando escolhe as instituições de ensino superior não é tanto pela qualidade dos cursos, mas porque estão perto de casa. Temos que olhar para outros territórios.

P – Mas o Politécnico da Guarda pode continuar a existir com 300 novos alunos por ano, além dos estudantes estrangeiros?
R – Obviamente que quanto menos alunos entram mais difícil se torna a nossa existência e a justificação do IPG. Mas tem que existir uma efetiva aposta na alteração dos modelos que hoje estão em cima da mesa, nomeadamente de entrada no ensino superior, do financiamento e daquilo que queremos para os dois subsistemas (universidade/ politécnico).

P – Não receia que o IPG seja vítima de mais reformas que passem pela concentração e pela melhor gestão de recursos?
R – O que deveria existir era um redimensionamento a começar no litoral, porque é aí que temos um conjunto grande de instituições. Este ano já houve uma tentativa que não funcionou…

P – Não funcionou para o IPG, que foi a instituição de ensino superior que registou a maior queda de novos alunos, com menos 22 por cento comparativamente a 2017. O Politécnico está parado e sem ideias, não tem sido atrativo. O que vai fazer para dar a volta à situação?
R – Temos que ter novas formas e explorar novas ideias para reverter a situação. Mas estamos perante uma situação bastante complexa, difícil, e que é natural que exista uma degradação. Há estudos para a Universidade de Coimbra que também são dramáticos em termos da entrada de alunos. Hoje temos uma realidade completamente diferente da que tínhamos há vinte anos, o número de alunos tende a diminuir e, portanto, temos que pensar no redimensionamento do sistema. E também temos que ter a noção que é preciso ir buscar outros públicos no país e no estrangeiro. A captação de alunos internacionais, nomeadamente nos PALOP e no Brasil, pode ser uma via muito interessante, mas não só. Haverá também que explorar o espaço europeu, um mercado muito mais fácil por causa dos vistos, etc., que trazem sempre uma dificuldade de funcionamento bastante grande.

P – Não receia que o IPG seja cada mais uma escola profissional com predomínio dos cursos técnicos superiores profissionais (TeSP)?
R – Não. Tomara eu que tivéssemos ainda mais cursos técnicos. Há um erro muito relevante nesta matéria a nível governamental e das instituições de ensino. O que diferencia hoje em dia a universidade do politécnico? Provavelmente praticamente nada, mas o objetivo de criar dois sistemas era que houvesse uma diferença. Agora queremos ou não essa diferença? O que é diferente? Teremos que ser mais do que uma escola profissional, mas sempre com a noção de que temos que preparar alunos para o mercado de trabalho. Logo, temos que perceber quais são as áreas onde podemos formar quadros qualificados para desempenharem de forma capaz o seu trabalho. É isso que devemos fazer. Temos que fazer um esforço muito grande para as pessoas perceberem que há uma diferença objetiva e real entre os objetivos do ensino politécnico e os objetivos do ensino universitário. Na minha perspetiva essa diferença pode ajudar-nos.

P – Qual será a sua prioridade se for eleito e como a vai concretizar?
R – Uma das nossas vocações é o ensino e a investigação. O Politécnico não nasceu com um intuito prioritário em termos de investigação científica, mas neste momento, dados os critérios de avaliação das instituições, tem que ser esse o caminho, tal como em termos de financiamento. Uma das minhas prioridades é fazer uma revisão completa da nossa formação, desde os TeSP aos mestrados, para termos uma orgânica perfeitamente percetível, com lógica e sequência. A segunda prioridade é a investigação, um caminho que temos que reforçar até para nos inserirmos no contexto europeu. O terceiro pilar da minha candidatura é a prestação de serviços, a colaboração no desenvolvimento regional. Tenho algumas ideias de áreas não concorrenciais com os privados, porque se esforçam, pois é preciso fazer mais. Outra prioridade é a formação além da componente técnica e científica, pois temos que formar pessoas com ética, valores e uma capacidade multicultural que lhes permita trabalhar em qualquer parte do mundo. Devemos preparar alunos para o mercado português e internacional. Essa tem que ser a nossa marca, a dos nossos alunos terem, além das qualidades técnicas, valores humanos. Isso é para mim um aspeto fundamental.

P – Além do problema da interioridade, o que não tem corrido bem no IPG nestes últimos anos?
R – Um dos aspetos onde acho que existe uma falha mais significativa é na capacidade de diálogo, pois a presidência do IPG está afastada de toda a instituição, dos docentes e funcionários, e isso é dramático. Quem gere uma instituição desta dimensão tem que estar aberto à crítica, à opinião diversa, e aproveitá-la em seu benefício. Se se faz uma crítica, as pessoas devem refletir sobre isso e emendar o caminho, fazer diferente e recompor as nossas prioridades. O diálogo é algo que tem faltado à presidência do Politécnico.

P – Como avalia os mandatos de Constantino Rei?
R – Creio que o segundo mandato se caracterizou por esse afastamento. Certamente que o professor Constantino Rei e a sua equipa fizeram o melhor que puderam e souberam. Só posso agradecer o esforço e todo o trabalho executado, mas isto não quer dizer que esteja necessariamente de acordo. Quando uma pessoa está à frente de uma instituição e considera que já não tem ideias ou forças para continuar um determinado caminho, das duas uma: ou não avança para um segundo mandato ou então é melhor colocar o lugar à disposição. Eu nunca poderia estar num lugar se considerasse que não tenho ideias e soluções para implementar, nem capacidade para dirigir. Por isso é que a decisão de avançar teve de ser bastante ponderada porque não estou à espera de facilidades nos próximos quatro anos. Mas também tenho uma certeza absoluta: só as conseguirei ultrapassar se tiver os docentes, os funcionários e os alunos comigo. É impossível gerir uma instituição destas se não tiver o apoio de toda a comunidade IPG.

P– Concorda com a integração do IPG na UBI?
R – Não. Se for eleito presidente do Politécnico nunca farei nada antes de um processo interno de auscultação e debate em torno dos prós e contras de cada opção, porque há mais opções para além dessa. A UBI não é a única instituição de ensino superior em Portugal, nem no mundo. Na minha opinião, é muito mais favorável a colaboração com várias instituições de ensino superior consoante as áreas. Esse caminho parece-me muito mais interessante do que a fusão propriamente dita, que é um processo irreversível. O presidente nunca pode fechar nenhuma porta, todas as soluções devem ser ponderadas, estudadas e verificadas. Só depois se deve tomar a decisão.

 

«Todos temos que ter uma posição de proatividade para que as coisas funcionem melhor»

Gonçalo Poeta Fernandes

P – Por que se candidata?
R – A minha candidatura resulta de todo um trabalho ao longo de 22 anos no IPG e de oito anos na vice-presidência do Instituto. Quero por os meus conhecimentos, a capacidade adquirida e uma intervenção de valor ao serviço da instituição para a fortalecer e sobretudo tornar sustentável a sua missão enquanto entidade de formação.

P – O IPG, que foi a instituição de ensino superior que registou a maior queda de novos alunos, com menos 22 por cento comparativamente a 2017. O Politécnico está parado e sem ideias, não tem sido atrativo, como disse outro candidato. O que vai fazer para dar a volta à situação?
R – O lema da minha candidatura é um Politécnico unido, cooperante, inovador e comprometido com a região. A procura e a atração de alunos é um aspeto crítico que nos preocupa diariamente por forma a tornar a instituição mais atrativa e capaz de dar as respostas mais inovadoras. Mas nos últimos anos o IPG tem crescido em termos de novos alunos, tem preenchido na totalidade as vagas atribuídas e este ano vai acontecer o mesmo. Teremos novamente os cursos com uma taxa de ocupação elevada, da ordem dos 60 por cento, à exceção das engenharias, onde a situação é um pouco mais complicada.

P – Mas há vinte anos o IPG tinha mais de 4.000 alunos e agora tem 3.000.
R – São 3.500 aproximadamente. Isso resulta de uma redução muito drástica do número de candidatos ao ensino superior, entre 2005 e 2015, que afetou todas as instituições do interior. E tem também a ver com a dinâmica demográfica destas regiões.

P – Mas o que vai fazer para alterar, se for eleito presidente, essa linha descendente? Ouve-se reiteradamente que o Politécnico pode fechar.
R – Isso nem se coloca. O Politécnico respira vitalidade, sobretudo interna, com os seus docentes cada vez mais qualificados e capazes de responder aos desafios que a sociedade lhes coloca. É neste contexto de unir e de capacitar para o futuro que o IPG tem que dar respostas, o que fará com o alargamento de cursos técnicos superiores profissionais. Destaco o sucesso do curso com a indústria automóvel, em que tivemos mais candidatos do que vagas, como o reconhecimento da Altran, que dá o IPG como exemplo porque foi a primeira instituição que lhe apresentou uma formação à medida em 2013 – e já vamos na terceira edição dos testes de software. Os TeSP também vão começar a ter cada vez mais internacionalização, dando resposta a necessidades concretas nos PALOP, na América Latina e nos países onde a comunidade portuguesa é representativa e veem Portugal como destino de boa formação. Hoje há mais de 450 alunos internacionais a estudar no IPG, um número que queremos aumentar nos próximos anos com novas geografias e novos perfis sociais, vindos também do Brasil, do Chile, Argentina, Canadá, Estados Unidos. Esse é o caminho. Simultaneamente temos que cativar mais alunos de fora da região porque está em inverno demográfico severo, o que penalizará ainda mais estas instituições de ensino superior. Por isso, vamos continuar a participar em feiras e eventos e também nas escolas para dar a conhecer o IPG. A par disso, as pós-graduações e os mestrados vão ter também maior visibilidade internacional. Mas temos que ganhar dimensão em cursos de língua inglesa, que quero iniciar nos próximos dois anos para darmos resposta às novas exigências do mercado e abrir as portas do IPG ao mundo.

P – Mas não receia que o IPG seja cada mais uma escola profissional com predomínio dos cursos técnicos superiores profissionais (TeSP)?
R – O IPG tem uma matriz politécnica e algo não estará bem no dia em que a perdermos. Hoje temos formações de cursos técnicos superiores especializados que vamos fortalecer e vamos continuar a apostar nas licenciaturas e diversificá-las. Por exemplo, a indústria automóvel pode dar-nos a estrutura para reativarmos a Engenharia Mecânica e assim ganharmos alguma especialização nessa área porque temos os laboratórios equipados para o fazer e o histórico da região no setor.

P – O setor automóvel é então uma das apostas de futuro do IPG?
R – A licenciatura de Engenharia Mecânica ganhará valor com este curso técnico profissional e com o envolvimento das empresas sediadas na Guarda. Se calhar, a breve trecho temos um Centro Tecnológico da Indústria Automóvel que poderá capacitar o Politécnico e a região para responder às necessidades da indústria que já cá está e atrair novos investidores.

P – Qual será a sua prioridade se for eleito e como a vai concretizar?
R – O desafio do IPG é de responsabilidades coletivas, que começam na presidência e acabam nos funcionários. Todos temos que ter uma posição de proatividade e contribuir para que as coisas funcionem melhor. Temos de estar unidos, cooperantes e em sintonia. Outros aspetos a reforçar são a internacionalização, a melhoria da dotação tecnológica do Instituto e a inovação dos modelos formativos. Isso exige que os professores também estejam disponíveis para serem inovadores e mais flexíveis para acompanhar os seus estudantes. É pela qualidade da nossa formação que temos de nos diferenciar e por sermos capazes de responder às necessidades das empresas e da região.

P – Como avalia os mandatos de Constantino Rei?
R – Não me cabe a mim, enquanto vice-presidente, avaliar a pessoa com quem estou a trabalhar. No entanto, todos têm que reconhecer que o Instituto está cada vez mais aberto para a comunidade, criou ligações de diferentes níveis com os vários “stakeholders” da região. Há cursos, pós-graduações e outro tipo de situações que não existiriam com a dimensão que hoje temos. O IPG tinha 30 ou 40 alunos internacionais em mobilidade e hoje temos mais de uma centena e mais de 400 alunos internacionais. Houve ainda mais prestações de serviços à comunidade e temos que crescer ainda mais para potenciar as capacitações do IPG no turismo, engenharias, comunicação e nas áreas do desporto e da saúde. Contudo, há duas situações que deveríamos ter desenvolvido e que quero concretizar. A primeira é um gabinete de apoio a projetos e investimento para acompanhar os trabalhos de investigação e os projetos financiados. A outra é a reformulação dos centros de informática e dos serviços de Ação Social para melhorar a eficiência de resposta aos problemas da instituição e do corpo docente.

P – Concorda com a integração do IPG na UBI, um tema relançado por Constantino Rei na recente entrevista ao jornal “Público”?
R – Há cinco anos a tutela desafiou as instituições de ensino superior a pensarem num modelo de reorganização do sistema. Na altura, o presidente do IPG e o reitor da UBI chegaram a um entendimento sobre uma ligação que permitiria, entre outras virtudes, ter áreas de formação exclusiva do ensino universitário na Guarda e do ensino politécnico na Covilhã, que também iria beneficiar do potencial dos cursos técnicos superiores profissionais do IPG. A proposta foi entregue, mas a tutela não aceitou e o processo foi metido na gaveta. Neste momento não há enquadramento, mas não tenho dúvidas que, num período de tempo relativamente curto, o atual sistema de ensino superior terá que ser reorganizado por causa da gestão mais eficiente dos dinheiros públicos e de alguma qualificação da oferta existente. Portanto, esse modelo de integração IPG/ UBI é uma possibilidade que não excluo desde que devidamente estudado e percecionado o que está em causa para a região. Mas defenderei acerrimamente os interesses do IPG e da região naquilo que tiver a ver com o Instituto. E serei resiliente até ao limite para que o Politécnico se possa qualificar nos próximos anos, tenha capacidade inovadora e desenvolva um trabalho cada vez mais próximo e profícuo com todos os parceiros da região.

P – Pensa que vai ganhar à primeira volta ou será necessária uma segunda volta?
R – Se fizer uma leitura atenta dos perfis, dos percursos e dos programas, de certeza que o Conselho geral fará uma escolha sábia.

Sobre o autor

Luís Martins

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