Tenho evitado sair à rua nas duas últimas semanas, para evitar o costumeiro cumprimento destes primeiros dias de Janeiro, “bom ano”, respondendo aos meus concidadãos com a única resposta possível, “bom ano, o catano”.
O que é que de bom tem para nos trazer este 2025? Trump, um mundial de clubes sem o Sporting e um novo disco da Taylor Swift?
Destes todos, evidentemente que o mais perigoso é quem não se pode criticar sob pena de processos judiciais e multidões violentas prontas a cancelar uma opinião dissonante. Não, não se trata de Trump nem da FIFA, apesar das suas reconhecidas tentações totalitárias.
Taylor Swift e a sua equipa de advogados exigiu a um crítico musical, sob ameaça de o processar judicialmente que retirasse a sua crónica onde escreveu, e cito, que a música de Swift é um «disparate electropop banal e desperdício de vida de nível sub-Kardashian».
Já tinha experimentado pessoalmente, numa aula em que se falava de música, da fúria das multidões ululantes em defesa de Sua Santidade Swift, ou Santa Taylor, para os íntimos. Nunca sofri de cancelamento por racismo, sexismo ou reaccionarismo. Sofri de swiftismo. Nem quero imaginar se tivesse dito em voz alta que, para mim, Swift só o Jonathan. Teria sido queimado vido na fogueira da vaidade dos fãs da estrela maior.
Taylor Swift abre um novo campo de litigação na crítica cultural. Se isto valesse para o cinema, os críticos do “Expresso” passariam a viver no Campus da Justiça. Uma crítica de três estrelas a um novo livro do Cardeal Tolentino de Mendonça estaria na origem do fim da Concordata. Não gostar de nenhuma das temporadas de “Bridgerton” seria motivo para uma intervenção do Tribunal Penal Internacional, por crimes de genocídio.
Já se sabia que os artistas são gente muito sensível à crítica, e que devem ser acarinhados na sua labuta, mesmo que sejam maus, porque o mundo precisa de arte, mesmo que seja uma banana colada à parede com fita adesiva, para ser vendida a um milionário por seis milhões de euros, e o milionário acabar por comer a banana, a tal que lhe custou seis milhões de euros.
Mas a uma artista que tem milhões de fãs e milhões de dólares a frase comum “haters gonna hate” não é suficiente. É preciso que esses odiosos que vão sempre odiar sofram as agruras do tribunal, para pensarem duas vezes antes de escrever que a música de uma qualquer pós-adolescente incensada pelas multidões em delírio pop é apenas uma espécie de omelete musical com letras infantilóides do género “Fernão Capelo Gaivota” e música pop com a mesma originalidade de qualquer canção que toca incessantemente nos programas das tardes de domingo na televisão portuguesa.
Se eu cometesse o erro de escrever isto sobre alguma dessas artistas, os seus advogados provavelmente não saberiam ler português, mas as suas fãs já lhes estariam a mandar DM’s no Instagram.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia