Patri(ex)ótico

Por razões que não interessam ao leitor – e se lhe interessarem, por ser coscuvilheiro, paciência – tenho-me encontrado várias vezes na situação de ter de explicar aos meus interlocutores o que significam algumas expressões próprias do português falado em Portugal. (A propósito, há quem se refira a esta variante da língua como “português europeu”, mas como é evidente na sua designação, o português europeu é aquele que os emigrantes de toda a Lusofonia falam nos países da Europa, esse continente que faz fronteira com a Península Ibérica.)
Se o leitor achar que tenho macaquinhos no sótão vá dar uma volta ao bilhar grande e chatear o Camões. Hoje acordei com os azeites, e com este jornal ninguém faz farinha. Se pensar que esta crónica não é grande espingarda, escrita por um tipo armado em carapau de corrida, pode ir dar banho ao cão e pentear macacos. O leitor, de cara podre, quer tudo à tromba estendida, mas aqui não há pão para malucos. Há quem fale pelos cotovelos e quem emprenhe pelos ouvidos. Se julga que lhe estou a dar tanga é porque este artigo lhe dá água pela barba. Os portugueses ficam de trombas, mas engolem o sapo e vão com os porcos.
Quando um português é confrontado com a pergunta “o que significa muitos anos a virar frangos?” não há dignidade patriótica que o salve. Qualquer explicação honesta exigirá uma dose de psicanálise colectiva mais densa do que o “Labirinto da Saudade”. É mais simples escrever um doutoramento sobre a poética de Quim Barreiros do que enquadrar o significado que encerra esta frase. É uma expressão só compreensível por portugueses, precisamente porque têm passado as últimas décadas a virar frangos.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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