Serra da Estrela

Ser um Geopark Mundial tem de ser Natureza, mas também pode ser ciência e tecnologia; tem de ser tradição e meio-ambiente, mas também pode ser modernidade e vanguarda; tem de ser ecologia, mas também pode ser sustentabilidade e futuro.

Cinco anos depois, a candidatura Estrela Geopark Mundial foi aprovada pela UNESCO – a candidatura foi entregue em 2017, mas foi iniciada em 2014. E o seu sucesso, ainda que previsível, é um momento notável e de grande afirmação da Natureza e do Ambiente; de extraordinária relevância pelo impacto social, cultural e económico que implica (ou pode implicar); de confirmação e realce do valor da Serra da Estrela, enquanto reserva ambiental e parque referência pelas suas características e beleza; de mérito pela iniciativa, pelo projeto, pela candidatura, em que todos os participantes têm de ser saudados e parabenizados – os diferentes atores, desde logo os promotores da ideia, as instituições envolvidas, com o Politécnico da Guarda à cabeça, mas também a UBI e as autarquias incluídas e os demais participantes na candidatura. E a distinção internacional do território.
A Serra da Estrela é muito mais do que “a maior serra portuguesa” ou a “serra mais alta” de Portugal. É um sistema montanhoso com uma biodiversidade ímpar, com uma flora rica, com paisagens impressionantes, com uma riqueza natural, contrastes, vegetação e valor ambiental excecional. Da Torre ao Covão d’Ametade, dos lagos ao Vale Glaciar, do Poço do Inferno às Penhas da Saúde, da tradição pastoril ao Queijo da Serra, das aldeias isoladas aos recantos únicos… a “Serra” está cheia de pontos de partida e chegada para deleite dos seus visitantes. E agora há também uma nova estrela na Estrela: o “selo” da UNESCO.
Como salientaram os responsáveis da associação Geopark Estrela, a sustentabilidade da serra da Estrela tem agora um novo argumento. O aumento do potencial turístico e económico, mas também o desenvolvimento cultural e social da região tem agora mais uma marca.
A classificação, per si, sendo relevante, não determinará mudanças e desenvolvimento regional sem mais. O Geopark Estrela terá agora um outro nível de esforço, de criatividade e trabalho para que os municípios integrantes possam no seu todo ser beneficiados pela referência. Se o caminho feito foi positivo e essencial para a atribuição do título, a afirmação como território de referência universal e autossustentável exige mais dinâmica e nova energia. Ser um Geopark Mundial tem de ser muito mais do que georreferenciação, concursos de fotografias, imagem, conferências interessantes ou mercadinhos tradicionais. Tem de ser uma âncora de promoção da Natureza, de vida, de respeito pelo meio-ambiente, de capacidade de inovar e inventar, de dar um novo futuro à região. Tem de ser Natureza, mas também pode ser ciência e tecnologia; tem de ser tradição e meio-ambiente, mas também pode ser modernidade e vanguarda; tem de ser ecologia, mas também pode ser sustentabilidade e futuro.
A instalação da sede do Geopark será porventura um dos primeiros imbróglios para resolver. O IPG, que liderou a candidatura, não irá abdicar da sua relevância em todo o processo e será o primeiro a reivindicar sede e liderança futura. Mas os municípios integrantes também se sentem no direito de terem a sede da associação, em especial Manteigas que está no “coração” da Serra e tem mais território envolvido do que qualquer outro concelho (o presidente da Câmara, Esmeraldo Carvalhinho, tem manifestado essa pretensão). Ou seja, o centro nevrálgico do Geopark Estrela estará entre a Guarda e Manteigas, mas os benefícios, a dinâmica e o impacto serão relevantes em todos os concelhos integrantes.
O Geopark Estrela poderá ser a mais importante e estruturante base de crescimento sustentável do interior do país e é, sem dúvidas, uma excelente alavanca na afirmação da região, assim os homens não atraiçoem a confiança da UNESCO e não traiam o meio-ambiente e extraordinário património material e imaterial da “nossa” Estrela.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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