Receita para um “cidadão moderno”

Escrito por Diogo Cabrita

Esta é uma pastelaria fina, de alta sofisticação culinária, que lhe permite fazer um português normal, ou um “cidadão moderno” com sabor a “Chico esperto”.
Dois quilos de emoção, umas dez colheres de sopa bem medidas de falta de respeito, uma gamela de egoísmo, uma garrafa de vozearia e se possível um litrinho de vinho às refeições. Este é o que se come nas filas de espera, o que se empertiga nas salas de atendimento, o que faz comício antes das consultas. Se quiser comer no tempo das eleições junte duas mãos cheias de cegueira, um copo cheio de fanatismo, umas dez colheres de sopa de certezas e convicções. Este ataca nas redes sociais, grita nos comícios, ergue bandeiras ao vento. Sabe muito a excesso de tempero. Já um bolinho de cidadania atrevida carece de 200 gramas de falta de vergonha, 400 gramas de má educação, dez anos de ausência paterna e de afirmação na família, 300 gramas de estupidez da mais pura e aí tem um aventureiro nas estradas, um inefável militante, um eloquente nas salas de cinema, um deixa tudo em todo o lado, um “passa à frente” nas cantinas. Se aumentar a dose de vinho e de falta de educação e de falta de vergonha tem um beberrolas dos que fala alto, interrompe, conduz sem carta, acha que tem graça. Toda esta gente vai a votos a 6 de outubro e para anular a sua parvoíce e má escolha carecemos de igual número de pessoas, ou gente sã e só além destes os que por fim farão boas escolhas. Não faltes à democracia, não faltes à obrigação maior da garantia de sermos livres e podermos escolher ou és comido de cebolada.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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