O órfão

Escrito por António Ferreira

O PSD perdeu, mas Álvaro Amaro ganhou o que se sabia ser o seu desejo máximo: um lugar no Parlamento Europeu. Parabéns. É de certeza muito mais estimulante o trabalho parlamentar do que o autárquico. É melhor ter de levantar o rabo nas alturas determinadas pelo chefe do grupo parlamentar do que ter de pensar em qual o próximo evento, ou rotunda, a apresentar aos guardenses. Adeus, Alameda da Ti Jaquina, adeus outras promessas eleitorais de que já nem me lembro, adeus conta da água à Águas de Portugal, adeus locomotiva da rotunda da Estação. Quem cá ficar que tome conta do assunto, que ele não é paizinho de ninguém.
Quem cá ficou recebeu o formato. Há um calendário de acontecimentos que cria a ilusão de movimento. Há as pequenas obras vistosas que os munícipes veem todos os dias, sobretudo quando têm de passar por rotundas. Há muitas árvores para cortar e substituir por outras, estas infelizmente emissoras de pólenes que podem destruir o “bom ar da Guarda”, como já foi alertado, mas não ouvido.
Sorte nossa: quem ficou, como o Carlos Chaves Monteiro, agora presidente da Câmara Municipal da Guarda, vive cá. As decisões que tomar vão afetá-lo também a ele, e se forem más também sofrerá com elas. Pagará, contrariamente a Álvaro Amaro, o imposto municipal sobre imóveis que a Câmara determinar. Se for excessivo, sê-lo-á também para ele. E o mesmo com o preço da água, ou com as taxas que aí estão incluídas. Se não cumprir, arrisca a discordância, a repreensão dos munícipes que todos os dias se irão cruzar com ele na rua.
É um poderoso incentivo para querer gerir bem o município: este não é uma etapa para um bem maior, não é um meio para chegar a um objetivo. No final do caminho não está (para já) uma reforma dourada numa sonolenta poltrona de Estrasburgo. Estão as pessoas da sua terra, que vão continuar a recordá-lo mesmo passados muitos anos depois de deixar o cargo.
Ou não. As eleições vão ser daqui a dois anos. A conta da água terá de ser paga. Há um limite para o número de rotundas de que o concelho precisa e já muita gente começa a perceber que não é com festas que os problemas se resolvem.
Destes últimos seis anos retenho uma medida que fez a diferença para melhor: baixar os preços dos lotes na PLIE (plataforma logística). São necessárias mais medidas assim, e é necessário ouvir as pessoas, também as empresas e ver em que medida a Câmara pode ajudar. Por enquanto, Carlos Chaves Monteiro merece o benefício da dúvida. Precisa é deixar de se sentir órfão de Álvaro Amaro.

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António Ferreira

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