O muro das lamentações

Escrito por Júlio Sarmento

Na política, como na vida, nada é indiferente! Escutam-se lamentos, incontidos, de quem está preso à mesma circunstância geográfica, companheiros em face dos mesmos desafios, hesitando na dúvida, tropeçando no erro, iguais na fragilidade, enfrentando as mesmas angústias, vivendo as dificuldades de um caminho cada dia mais penoso.
É a vida para quem a política lhe não é indiferente!
Na pretensão que espera, no projeto que dorme, no processo que não anda, no emprego que se perde, no trabalho que não chega, no jovem que emigra, no crédito que não vem, no concurso que se interrompe, no investimento que não chega, no mercado que mingua, no imposto que pune quem trabalha.
O preço de toda a espera é a própria vida de quem aqui sobrevive. Mas todos os lamentos, todas as vozes parecem sair com pedido de desculpa, como se a razão de queixa tivesse estatuto de minoria.
O interior é assim uma espécie de muro das lamentações onde a palavra é dita com o credo na boca. Palavras que batem no silêncio sem resposta, vivendo no eco de uma peregrina solidão.
Vivemos entre grandes serras paradas e ainda erguemos muros altos à volta da nossa quinta. O muro do conformismo, o muro da falta de exigência, o muro do derrotismo, o muro da desconfiança, o muro do egoísmo, o muro do preconceito ideológico, o muro da inveja.
Muros que nos dividem, nos cercam, nos perseguem. Muros altos para quem tem vistas curtas. Muros altos que todos ajudámos a erguer.

* Antigo presidente da Câmara de Trancoso, ex-líder da Distrital da Guarda do PSD e atual presidente da Mesa da Assembleia Distrital do PSD

Sobre o autor

Júlio Sarmento

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