De Trump a Bolsonaro, passando por Duterte

Escrito por António Ferreira

É verdade que o voto do povo é soberano e que não adianta tentar mudar de povo quando o sentido de voto não nos agrada. São as regras do jogo que escolhemos jogar e a que chamamos democracia. Mas também faz parte do jogo democrático a liberdade de expressão e esta permite-nos dizer sem medo que muitas vezes o povo vota mal e muitas outras até vota bem, mas por maus motivos. A regra é então esta: tu podes votar em quem quiseres e eu posso dizer-te que votaste mal, até para pensares melhor da próxima vez. Não é que eu tenha necessariamente razão, entenda-se, que posso estar errado na minha crítica, mas, no exercício da minha liberdade de expressão, tenho o direito de dizer o que penso com a intenção de ser ouvido – com a mesma legitimidade que o mais ignorante dos eleitores tem para escolher em quem vota.
Posto isto, tendo de aceitar a eleição de gente como Trump, Maduro, Bolsonaro, Putin, Erdogan e outros de quem não gosto e não entendo de que se goste, a não ser por maus motivos ou por engano, tenho o direito, e às vezes a obrigação, de dizer porquê, assim como tenho o direito e a obrigação de dizer porque acho que o voto neles foi um erro trágico para os seus povos e, indiretamente, para todos nós.
É inaceitável, por exemplo, que campanhas eleitorais sejam baseadas em mentiras sobre o adversário e que os eleitores votem apoiados nessas mentiras. Cada voto destes é um voto obtido por fraude. Se essas fraudes não forem desmascaradas e castigadas, nem que seja pelo voto contra, e se continuarem a decidir eleições, todos os partidos e candidatos terão de começar a fazer o mesmo para não ficarem para trás. Se isso acontecer, e ameaça acontecer, todo o processo democrático passará ele próprio a ser uma fraude e devemos isso a gente como aquela e a todos os que se deixaram enganar.
É inaceitável também que se ganhem eleições com agendas promotoras da discriminação sexual, da xenofobia, contra minorias étnicas, sexuais, religiosas, ou violadoras dos princípios civilizacionais que pensávamos adquiridos e inscrevemos em constituições, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e noutros documentos fundadores. Se isto está a acontecer, se, como Duterte nas Filipinas, acharmos correto abater a tiro, sem julgamento, todos os que acharmos serem criminosos, e se, como Bolsonaro, viabilizarmos o acesso universal às armas (por isso também a traficantes de droga, ladrões e homicidas), estaremos a legitimar a lei da selva, em que o melhor armado irá prevalecer.
É por tudo isso que devem ser desmascaradas essas opções de voto e expostas as falácias que enganaram quem as escolheu e, mais, deve ser considerado imperativo por todos ir votar: enquanto se pode e enquanto haja alternativas credíveis (e são cada vez menos).

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António Ferreira

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1 comentário

  • vejo que ao incluir JAIR BOLSONARO em seu comentário o senhor foi muito infeliz , demonstrando que desconhece a realidade do BRASIL e de sua urgente necessidade de mudanças estruturais que somente podem ser feitas por um homem honrado, patriota e que tenha opinião.(de um brasileiro que não aguenta mais)