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«É através do desporto que estes alunos descobrem os seus limites e ultrapassam barreiras»

Cara a Cara – Ana Paula Pereira

P- Há quanto tempo existe este projeto do boccia na escola e qual é o balanço?

R- O boccia, como modalidade do desporto escolar, está no segundo ano letivo. O balanço é bastante positivo, temos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos do nosso agrupamento a jogar boccia quer nas competições a nível distrital, regional e nacional do desporto escolar, quer em demonstrações escolares e em encontros intergeracionais. Este ano estabelecemos um protocolo de cooperação, ao abrigo do programa do Desporto Escolar, com a Secundária Campos Melo, possibilitando que os seus alunos com necessidades educativas especiais permanentes venham à nossa escola praticar boccia.

P- A que se deveu a escolha de integrar o boccia nas modalidades da escola?

R- Em setembro de 2009 iniciei um projeto de Desporto Adaptado “Construir a Igualdade, Respeitando a Diferença!”, de intervenção na área da motricidade, e que pretende ser um veículo de apoio e desenvolvimento para os alunos do 1º,2º e 3º ciclos com necessidades educativas especiais permanentes, a frequentar a Unidade de Apoio à Educação de Alunos Multideficientes (UAEAM). Este projeto procura desenvolver o gosto pela atividade física, desporto e lazer em alunos com deficiência, bem como promover a sua inclusão na sociedade, no qual o boccia, a petanca, o mini-golfe e a equitação foram as modalidades escolhidas face às características, às necessidades e potencialidades dos alunos. É um projeto ao qual tem sido possível dar continuidade ao longo dos vários anos letivos pelo apoio incondicional da direção da escola e da Câmara da Covilhã, ao nível do transporte para as deslocações.

P- Qual tem sido a recetividade da comunidade escolar?

P- Desde que iniciámos este projeto que toda a comunidade escolar e comunidade envolvente (professores, alunos, pais e encarregados de educação, autarquia, empresas, imprensa) têm sido sensibilizadas para participar, colaborar e apoiar as várias atividades, encontros e eventos dinamizados pelo grupo de Educação Física no âmbito da promoção e divulgação do desporto adaptado. No ano letivo anterior organizámos uma concentração do Desporto Escolar que envolveu cerca de 65 participantes e o Iº encontro Intergeracional de boccia, no âmbito do projeto “Desporto Solidário”- atividades desportivas para seniores, que envolveu cerca de 40 utentes de três instituições do concelho da Covilhã. Este ano organizámos o encontro distrital de boccia do Desporto Escolar que contou com mais de 150 participantes, incluindo alunos com necessidades educativas especiais, portadores de deficiência e incapacidades motoras, alunos/árbitros, professores, assistentes operacionais, técnicos e auxiliares, em representação de sete escolas do distrito, e o IIº Encontro Intergeracional de boccia, que envolveu mais de uma centena de idosos de sete instituições do concelho, são exemplos que nos fazem acreditar que o nosso esforço pela promoção e integração destes alunos na sociedade, através de uma prática desportiva inclusiva para todos, bem como do envelhecimento ativo, está no bom caminho.

P- Quantos elementos têm e quais têm sido os resultados?

R- A participar nas competições do Desporto Escolar temos 13 alunos, dos quais 12 com necessidades educativas especiais permanentes que jogam em pé e um aluno que se desloca em cadeira de rodas, mas que compete sem auxílio de calha/rampa. No ano passado, ao nível distrital, alcançámos o quarto lugar por equipas, o primeiro lugar individual na divisão I (aluno-praticante com deficiência/incapacidade motora que utiliza cadeira de rodas manual) e o terceiro lugar individual na divisão II (aluno-praticante com deficiência que joga em pé). Ao nível regional, vencemos o segundo lugar na divisão I e o sexto lugar na divisão II. No campeonato nacional terminámos no quinto lugar na divisão I. Este ano, ao nível distrital, alcançámos o terceiro lugar na divisão individual I 2 (aluno em cadeira de rodas), o segundo na divisão individual I 3 (aluno com deficiência que joga em pé) e o primeiro por equipas na divisão E 2. No campeonato regional fomos sétimos por equipas na divisão E 2. Participámos ainda no II Torneio de Boccia de Captação de Novos Talentos sub-14 e sub-23, organizado pela Paralisia Cerebral – Associação Nacional de Desporto com a colaboração da Associação de Paralisia Cerebral de Almada e Seixal, onde obtivemos o 7º lugar individual e o 2º lugar por equipas na classe BC1-BC2.

P- Qual a importância deste desporto para a integração dos alunos na comunidade? Passaram a ser vistos de outra forma pelos colegas?

R- A falta de oportunidades para a prática desportiva destes alunos é ainda, infelizmente, uma realidade. Somos o único agrupamento do concelho da Covilhã com grupos/equipa de Desporto Escolar de desporto adaptado, proporcionando uma prática desportiva inclusiva para todos. É através do desporto que estes alunos descobrem os seus limites e potencialidades, ultrapassam algumas barreiras impostas pela sociedade, relacionam-se e trocam experiências com os outros. Assim, as suas limitações e habilidades são postas à prova para encorajar, para que alcancem os seus limites, valorizando as suas ações e consigam uma maior motivação e interesse pelas atividades da vida ativa acreditando que são capazes de a viver com sucesso. Na escola os seus talentos naturais e habilidades criativas são reconhecidas e celebradas, as suas contribuições e realizações são apreciadas, são um exemplo vigoroso do que é possível alcançar quando cada um tem a possibilidade de participar e revelar o seu pleno potencial. O valoroso trabalho efetuado pelos professores com estes alunos – e muitas vezes integrando alunos sem deficiência, promove a consciencialização destes últimos da diferença e do respeito continuo que deverá estar sempre presente nas suas vidas futuras.

P- Quais são as expetativas depois de terem vencido os distritais?

R- O primeiro lugar no distrital por equipas na divisão E 2 deu-nos o acesso ao campeonato regional, que é mais uma oportunidade dos nossos alunos poderem mostrar as suas capacidades, de se valorizarem, de acreditarem que são capazes, de conviverem com as diferenças de se autosuperarem.

Tudo é considerado impossível… até acontecer.

P- Quais são as principais carências do projeto boccia na escola?

R- O espaço, pois, apesar da escola ter um pavilhão gimnodesportivo, não é o espaço adequado para os alunos com necessidades educativas especiais permanentes desenvolverem esta modalidade. O boccia requer silêncio, muita concentração/atenção, necessita de um espaço próprio/sala com dimensões inferiores e com acessibilidade arquitetónica. Precisamos também de material, pois um kit de jogo de bolas de boccia custa cerca de 500 euros.

P- Quais são os próximos projetos que possam vir a implementar e/ou participar?

R- Fizemos uma candidatura ao concurso “Educação Especial 2015”, da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito da promoção e integração escolar e social de alunos com necessidades educativas especiais através do Boccia como prática desportiva inclusiva para todos.

Ana Paula Pereira

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